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Blog do jornalista Jadson Oliveira
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UM ESPECTRO RONDA O BRASIL E O MUNDO: O ESPECTRO DA EXTREMA DIREITA 28 Jun 2024 3:03 PM (10 months ago)

Hoje não há mais utopias do futuro que mobilize corações e mentes. Para o intelectual italiano Enzo Traverso, “movimentos sociais e partidos políticos de esquerda não são capazes, no curto prazo, de preencher esse vazio utópico e atuar como freios às novas direitas”.

 

De acordo com Traverso, “os instrumentos historicamente construídos pela classe trabalhadora, como sindicatos, associações comunitárias e partidos, deixaram de estar onde a vida é vivida”.

 

Por Liszt Vieira (+) (Reproduzido do Fórum 21 – Portal das Esquerdas)

A eleição para o Parlamento Europeu no domingo 9/6 mostrou, como se esperava, o avanço da extrema direita, principalmente na França, com 32,4 % dos votos, contra 15,2% do partido do presidente Macron e 14,3% do partido socialista. Na Alemanha, com 16,5%, o partido de ultra direita Alternativa para Alemanha tornou-se a segunda força política do país. Em termos gerais, a direita deve ter 181 assentos no Parlamento Europeu, a extrema direita, 150 assentos, e a esquerda (Socialistas e Democratas), 135 assentos.

A grande maioria dos jovens votou na direita. Segundo declarações à BBC News, “para acabar com o status quo”, “porque a esquerda fracassou”, “não encontramos trabalho e a política de imigração é muito branda”, “a direita radical canaliza sentimentos anti-establishment” etc.

Hoje não há mais utopias do futuro que mobilize corações e mentes. Para o intelectual italiano Enzo Traverso, “movimentos sociais e partidos políticos de esquerda não são capazes, no curto prazo, de preencher esse vazio utópico e atuar como freios às novas direitas”. Ele afirma que “um espectro ronda o mundo, e desta vez não é o comunismo, mas uma nova direita que avança na Europa, nos EUA e América Latina, em contrapartida ao vazio de poder do sistema de partidos tradicionais que perderam suas bases sociais e também seus discursos identitários” (Las Nuevas Caras de la Derecha, editora Siglo Veinteuno, 2021).

Segundo Traverso, uma parte da esquerda, incapaz de compreender as mudanças na etapa histórica, segue apostando tudo no combate às desigualdades econômicas, ignorando a importância que a luta cultural ganha em momentos como esse. Por isso, no caso do Brasil, por exemplo, fica difícil compreender que, apesar da melhora dos indicadores econômicos – com inflação sob controle, aumento do PIB, diminuição do desemprego, aumento da renda dos mais pobres – segue havendo um profundo mal-estar entre os mais pobres em relação à política como um todo. De acordo com Traverso, “os instrumentos historicamente construídos pela classe trabalhadora, como sindicatos, associações comunitárias e partidos, deixaram de estar onde a vida é vivida”.

Traverso elogia as políticas identitárias de esquerda que reivindicam o “reconhecimento”, ao passo que as de direita reivindicam a “exclusão”. Mas a esquerda radical, segundo ele, nunca soube conciliar diferentes pautas identitárias, pondo o fator econômico (a classe) acima das identidades de raça, gênero e religião. Na mesma linha, a filósofa norte-americana Nancy Frazer, desde 2001, defendia a necessidade de articular redistribuição com reconhecimento, a reivindicação econômica com a luta pelo reconhecimento das identidades. Separar redistribuição do reconhecimento, assim como separar o social do institucional, como querem alguns, é um grave equívoco. O institucional, sem o social, vira uma burocracia estéril. O social, sem o institucional, torna-se em geral uma ideologia impotente, sem condições de promover transformações sociais.

No que diz respeito à eleição de governantes, há diversos fatores que podem influenciar o eleitor na hora do voto. Um deles é, sem dúvida, a identificação do eleitor com o candidato. Muitas vezes, eleitores votam segundo suas identidades, como classe social, nível econômico, religião, orientação sexual, etnia, gênero e até mesmo clube esportivo. Outro fator importante na formação da opinião que influencia o voto é a ação da mídia tradicional e das redes sociais. A desinformação e as fake news desempenham hoje um papel de grande relevância na decisão do voto, com informações enganosas ou falsas. Identidades sociais, políticas públicas, influência da mídia e estratégias de campanha são elementos que pesam na decisão de votar, além, é claro, das condições econômicas.

Assim, a tese tradicional de que o voto se explica primordialmente pela economia não corresponde mais à realidade. A famosa frase “É a economia, estúpido”, cunhada em 1992 por James Carville, então estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George H. W. Bush, perdeu seu reinado exclusivo das últimas décadas. A situação atual dos EUA e também do Brasil é esclarecedora a respeito.

É inegável a melhora da economia norte-americana. A taxa anual de crescimento econômico durante o atual Governo Biden foi superada apenas em quatro ocasiões nos últimos 24 anos. O desemprego está em 3,7%, nível historicamente baixo. Ao longo dos últimos três anos foram criados 17.973.000 empregos, enquanto no primeiro triênio do governo Donald Trump criaram-se 7.994.000.

A maneira como Biden enfrentou a pandemia e seus efeitos econômicos contribuiu para a tranquilidade nacional e a retomada da expansão do PIB. Inspirado pelo New Deal de Franklin Roosevelt, mobilizou o governo como incentivador de investimentos em infraestrutura, energia limpa e pesquisa tecnológica, além dos estímulos à indústria. No plano internacional, Biden está pagando alto preço pelo apoio militar ao genocídio dos palestinos cometido pelo Governo de Israel. Mas, na política doméstica, a economia vai bem e antes mesmo do massacre dos palestinos Biden já era mal avaliado pela maioria da opinião pública.

Apesar dos avanços econômicos, Biden está atrás de Trump nas pesquisas eleitorais. Embora processado na Justiça, Trump surge como favorito na eleição americana de novembro próximo e tudo indica que vai ganhar a eleição, se não for impedido pela Justiça de ser candidato, o que vai fortalecer o avanço da extrema direita no mundo.

Algo parecido está ocorrendo com o governo Lula. Os avanços econômicos são claros, mas não são percebidos por grande parte do eleitorado, intoxicado com as fake news e com a propaganda diária nas redes sociais e mesmo na grande imprensa. Inflação mais baixa, PIB mais alto, já cresceu 3,2% ante o mesmo período do ano passado, segundo IBGE. O dólar se manteve em torno de 5 reais. No que se refere às Reservas, Bolsonaro perdeu US$ 66 bi em 4 anos, e Lula aumentou US$ 14 bi em 70 dias.

O nível de desemprego recuou ao menor nível desde 2015, segundo o IBGE.  A razão principal foi o crescimento do trabalho informal que paga salários menores e contribui menos para um crescimento sustentável da economia. Renda do trabalho dos brasileiros tem a maior alta desde o Plano Real. O aumento chega a 11,7% em 2023 na esteira de maior gasto público. A inflação prevista para este ano é de 3,8%, enquanto a taxa de juros Selic continua alta, escandalosamente acima de 10%, por decisão de um Banco Central a serviço do mercado financeiro.

O vilão parece ser o aumento no preço de alimentos que vêm subindo acima da inflação desde outubro do ano passado. Agora, as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca no Centro-Oeste são dois fatores agravantes. Pesa também na decisão do eleitor políticas de bem-estar social como saúde, educação e, conforme a classe social, a questão da segurança pública.

Mais importante é o sentimento de abandono da população periférica que todo ano vê suas casas inundadas pelas enchentes, com perdas quase total de seus bens. Para essas pessoas, não há diferença importante entre os diversos governos. Não estão preocupadas com a ABIN paralela e outras questões da super estrutura, estão inteiramente dedicadas a buscar estratagemas de sobrevivência. Para beneficiar essa população marginalizada, seria necessária uma política de grande impacto como o New Deal, com forte investimento do Estado na economia, como ocorre nos EUA com o atual Governo Biden que prega o neoliberalismo para os outros países, sufocados com o austericídio fiscal que beneficia o mercado financeiro.

Com a catástrofe climática no RS era de se esperar uma rejeição em massa do Governador que cancelou e alterou 480 itens do Código Ambiental do RS e dos Prefeitos, principalmente o Prefeito de Porto Alegre que desviou verba prevista para a prevenção de enchentes e não fez manutenção do sistema de proteção contra inundações, deixando sucatear as comportas, diques e muros de contenção. Ambos são neoliberais e negacionistas notórios da crise climática. Ao que tudo indica, porém, essa rejeição é bem menor do que se esperava. Nem está sendo reconhecida, como merecia, a ação de apoio emergencial do Governo Federal ao RS, inclusive com diversas visitas pessoais do presidente Lula ao Estado.

A decisão do atual Governo Lula de buscar com a direita um consenso pela conciliação e distribuição de altos cargos no aparelho de Estado tem o objetivo de contribuir para a governabilidade a curto prazo e facilitar a aprovação da pauta do Governo no Congresso. Mas, a médio e longo prazo, isso pode ser contraproducente, contribuindo ainda este ano para a vitória de candidatos de direita nas próximas eleições municipais, que servirão de base de apoio para uma eventual vitória da direita ou extrema direita na eleição presidencial de 2026. E, até agora, as nomeações de Ministros e altos funcionários indicados pelo Centrão – eufemismo para a direita parlamentar – têm favorecido muito mais a direita do que o Governo que já perdeu muitas votações no Congresso. E, apesar dos avanços na área econômica, a popularidade do Governo e do Presidente não tem aumentado.

Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o cientista político Rudá Ricci declarou que “o governo Lula não enfrenta a direita e a extrema direita, é um governo conservador”. Segundo ele, Lula teve uma vitória eleitoral e derrota política pelas alianças que fez com a direita. Por outro lado, num exemplo de apoio crítico, João Pedro Stedile, dirigente do MST, em entrevista a Brasil de Fato, declarou que “o Governo não está fazendo nada na reforma agrária, é uma vergonha. Desapropriação não avançou, o crédito para os assentados não avançou, nem o Programa Nacional de Educação para a Reforma Agrária”. Mas Stedile reforça a necessidade de defender o Governo de seus inimigos: as multinacionais, o capital financeiro, o latifúndio predador e parte do agronegócio.

Outra questão com peso ideológico é o problema da violência criminal e da segurança, que leva muita gente a apoiar o discurso da extrema direita de “atirar primeiro e perguntar depois”, “bandido bom é bandido morto”, tendo como consequência a mortandade de inocentes nas favelas e nos bairros periféricos. E de grande relevância é a questão ambiental que explodiu como catástrofe anunciada no RS.

Hoje, a vida humana e animal está ameaçada pelas mudanças climáticas, resultantes principalmente da emissão de gases de efeito estufa e, no Brasil, do desmatamento provocado pelo agronegócio predatório, apoiado pelos negacionistas e neoliberais, em geral com o apoio da mídia. Seria de se esperar que a catástrofe no RS abalasse as opiniões tradicionais e, na esquerda, contribuísse para uma crítica profunda não apenas ao neoliberalismo e ao tradicional desenvolvimentismo que ignora a sustentabilidade, mas também – e sobretudo – ao negacionismo climático e seus dogmas, ostensivos na direita e às vezes, embora ocultos, presentes na esquerda. Mas isso parece não estar ocorrendo como demonstra a decisão do Governo Lula, com o apoio ou silêncio da esquerda, de explorar petróleo na Margem Equatorial do Amazonas, na contramão da transição energética.

E a declaração do Presidente Lula no dia do meio ambiente – afirmando que “a questão ambiental não é mais para ativistas e bicho grilo, é um chamado à responsabilidade humana” – foi uma confissão oculta do tradicional preconceito e rejeição da esquerda à questão ambiental e seus defensores na ciência, nos movimentos sociais e na Universidade. Os negacionistas, de direita e de esquerda, não querem lembrar que chamaram os ambientalistas de ecochatos, bicho grilo, meio ambiente é coisa de viado, no Brasil o problema é social, não é ambiental, meio ambiente é modismo importado da Europa, e por aí vai. Uma atitude mais correta seria fazer autocrítica e reconhecer que os ambientalistas e os cientistas climáticos sempre estiveram com a razão.

Ao lado do fator macroeconômico, cujos avanços não são percebidos pela população marginalizada, temos um importante segmento da população que se informa apenas pelas redes sociais e se identifica com valores conservadores como o machismo, homofobia, racismo etc. São contra a interrupção voluntária da gravidez, casamento de pessoas do mesmo sexo etc. Estamos aqui diante de uma questão doutrinária, de influência religiosa. São contra o aborto em nome do direito à vida, mas, depois do nascimento, não se importam se as crianças vão morrer de fome ou baleadas pelos tiros da Polícia nas favelas. Casamento é um contrato civil entre duas pessoas adultas, não importa a religião, o sexo, a orientação política ou o time de futebol preferido.

Um instrumento político importante de doutrinação é o discurso “contra o sistema”. Os jovens, com menos possibilidades de emprego no mercado de trabalho, são muito sensíveis ao ataque ao sistema para “mudar tudo o que está aí”. Não se diz como, não há projetos políticos, econômicos, culturais ou de qualquer outra natureza. Mudar pode melhorar ou piorar, com vemos agora na Argentina, onde Milei recebeu expressiva votação dos jovens, e já havíamos visto antes no Brasil durante o governo passado. É bom não esquecer que Lula agora é o Sistema, faz acordos por cima e muitas vezes concede vantagens a setores já privilegiados, tudo em nome da governabilidade. São exemplos disso as concessões feitas ao mercado, aos militares e à direita no Congresso.

Por outro lado, o Papa João Paulo II, ao destruir a Teologia da Libertação, com o apoio do Cardeal Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, abriu caminho para o movimento evangélico pentecostal e neopentecostal, de origem norte-americana. A Teologia da Prosperidade é a bandeira doutrinária dos evangélicos neopentecostais, recentemente “enriquecida” com a Teologia do Domínio. Os fiéis devem destruir seus adversários, vistos como inimigos de Deus, O avanço recente do chamado “sionismo cristão” está ligado a essa nova Teologia do Domínio.

Diante disso, só um trabalho de base a longo prazo pode reverter essa crença e esse apoio dos fiéis e de boa parte da classe média aos políticos de extrema direita, com o quais se identificam principalmente pelos valores conservadores, e não por propostas econômicas ou projetos políticos. Possivelmente, esses valores conservadores e o ódio passaram a influenciar mais o comportamento do eleitor do que a economia.

Considerando que o último ano do mandato presidencial é absorvido pela campanha eleitoral, o Governo Lula já percorreu metade do caminho. Se não houver mudanças drásticas na composição e atuação do Governo, corremos o risco de perder agora a eleição na maioria dos municípios e depois a eleição presidencial em 2026. Afinal, a extrema direita avança em todo o mundo. Na América Latina, servem de anteparos principalmente o Brasil, a Colômbia e o México. Mas, com a possível vitória de Trump, candidato favorito nas eleições presidenciais nos EUA, se não for impedido pela Justiça, a possibilidade de uma vitória da extrema direita no Brasil, com o apoio da direita, inclusive daquela instalada no Governo, é uma hipótese que não pode ser descartada e exige ser enfrentada.

Liszt Vieira

(+) Liszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO.

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PELA IMEDIATA LIBERTAÇÃO DE JULIAN ASSANGE 14 May 2023 6:41 AM (last year)

E as nossas bandeiras ainda estão lá — And Our Flags Are Still There — arte de Mr. Fish (Foto: Mr. Fish)


“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

Por Chris Hedges (jornalista)

Declaração de Chris Hedges em manifestação no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York

4 de maio de 2023, 16:46 h Atualizado em 4 de maio de 2023, 17:17 

(As matérias foram transcritas do site Brasil 247)

Esta é uma fala que fiz numa manifestação no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York, clamando pela libertação imediata de Julian Assange.

Originalmente publicado no The Chris Hedges Report em 3/5/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz, com exclusividade para o Brasil 247.

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(As três matérias são transcritas do site Brasil 247)

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(Do site Brasil 247) A detenção e perseguição de Julian Assange eviscera todos os fingimentos do estado de direito e dos direitos de uma imprensa livre. As ilegalidades, abraçadas pelos governos do Equador, do Reino Unido, da Suécia e dos EUA são ameaçadoras. Elas pressagiam um mundo no qual as maquinações internas, os abusos, a corrupção, as mentiras e os crimes, especialmente os crimes de guerra, executados por estados corporativos e a elite dominante mundial, serão mascaradas ao público. Elas pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário. Elas pressagiam a distopia Orwelliana na qual a notícia é substituída pela propaganda, por trivialidades e entretenimento. Eu temo que o linchamento legal de Julian marque o início oficial do totalitarismo corporativo que definirá as nossas vidas.

“As ilegalidades cometidas contra Assange pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expor o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário”

(Transcrito do site Brasil 247) Sob qual lei o presidente equatoriano Lenin Moreno acabou por capricho com os direitos de asilo de Julian enquanto refugiado político? Sob qual lei Moreno autorizou a polícia britânica a entrar na embaixada equatoriana — sancionada diplomaticamente como território soberano — para prender um cidadão naturalizado do Equador? Sob qual lei Donald Trump criminalizou o jornalismo e exigiu a extradição de Julian, que não é um cidadão estadunidense e cuja organização de notícias não se sedia nos EUA? Sob qual lei a CIA violou o privilégio de advogado-cliente, vigiou e gravou todas as conversas de Julian, tanto digitais quanto verbais, com os seus advogados e conspirou para sequestrá-lo da embaixada e para assassiná-lo?

O estado corporativo eviscera os direitos consagrados por decreto judicial. É assim que temos o direito à privacidade, sem privacidade. É assim que temos eleições “livres” financiadas pelo dinheiro corporativo, cobertas pelas mídias corporativas e sob o controle férreo das corporações. É assim que temos um processo legislativo sem o devido processo legal. É assim que temos um governo, cuja responsabilidade fundamental é a de proteger os cidadãos, que ordena e executa assassinatos dos seus próprios cidadãos, como o clérigo muçulmano Anwar al-Awlaki e o seu filho de 16 anos. É assim que temos uma imprensa a qual é permitido legalmente publicar informações classificadas e o publisher mais importante da nossa geração está sentado em confinamento solitário numa prisão de alta segurança, aguardando a sua extradição para os EUA.

A tortura psicológica de Julian — documentada pelo relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer — espelha a quebra do dissidente Winston Smith na novela “1984” de George Orwell. A Gestapo quebrava ossos. A Stasi da Alemanha Oriental quebrava almas. Nós também refinamos as formas mais brutas de tortura para destruir tanto almas quanto corpos. Isto é mais eficaz. É isto que eles estão fazendo com Julian, degradando constantemente a sua saúde física e psicológica. Este é uma execução em câmera lenta. Isto é feito de propósito. Julian passou a maior parte do tempo em isolamento, é frequentemente sedado e lhe foi negado tratamento médico para uma variedade de doenças físicas. É-lhe negado rotineiramente o acesso aos seus advogados. Ele perdeu muito peso, sofreu um AVC leve, passou algum tempo na ala hospitalar da prisão — a qual os prisioneiros chamam de ala do inferno — porque ele está em estado de suicídio, foi colocado em confinamento solitário prolongado, foi observado batendo a sua cabeça na parede e tendo alucinações. Esta é nossa versão do temido Quarto 1010 de Orwell.

Julian foi marcado pela CIA para ser eliminado depois que ele e o WikiLeaks publicaram o documento conhecido como Vault 7, o qual expôs o arsenal de guerra cibernética da CIA — incluindo dezenas de vírus, trojans, sistemas de malware por controle remoto programados para explorar uma ampla gama de produtos estadunidenses e europeus, incluindo o iPhone da Apple, o Android do Google, o Windows da Microsoft e até as Smart TVs da Samsung, que podem ser usados como microfones clandestinos quando parecem estar desligados.

Eu passei duas décadas como correspondente estrangeiro. Vi como as ferramentas brutais da repressão são testadas naqueles que Frantz Fanon chamou de “os miseráveis da Terra”. Desde o seu início, a CIA executou assassinatos, golpes de estado, torturas, campanhas de propaganda suja, chantagens e espionagem ilegal e abusos, incluindo de cidadãos estadunidenses, atividades expostas em 1975 pelas audiências públicas do Comitê Church no Senado dos EUA e nas audiências do Comitê Pike na Assembleia Federal de Representantes. Todos estes crimes, especialmente após os ataques de 11/9/2001 [torres-gêmeas de NY], voltaram como uma vingança. A CIA tem as suas próprias unidades armadas e um programa de drones, esquadrões da morte e um vasto arquipélago global de prisões clandestinas nas quais as vítimas sequestradas são torturadas e desaparecidas.

Os EUA alocam um orçamento clandestino secreto de cerca de US$ 50 bilhões por ano para esconder múltiplos tipos de projetos clandestinos executados pela Agência Nacional de Segurança [NSA — National Security Agency], pela CIA e por outras agências de inteligência — geralmente fora do escrutínio do Congresso dos EUA. A CIA tem um aparato bem lubrificado, que é a razão pela qual, já que tinha montado um sistema de vigilância por vídeo de 24 horas por dia de Julian na embaixada equatoriana em Londres, enquanto discutia naturalmente o sequestro e o assassinato de Julian. Este é o negócio deles. O Senador Frank Church — após examinar os documentos pesadamente censurados da CIA que foram disponibilizados ao seu comitê — definiu as “atividades clandestinas” da CIA como “um disfarce semântico para assassinatos, coerção, chantagem, suborno, a disseminação de mentiras e associações com conhecidos torturadores e terroristas internacionais”.

Tema os manipuladores das marionetes, não as próprias  marionetes. Eles são o inimigo que vem de dentro.

Esta é uma luta por Julian, a quem conheço e admiro. Esta é uma luta pela sua família, que está trabalhando incansavelmente pela sua libertação. Esta é uma luta pelo estado de direito. Esta é uma luta pela liberdade de imprensa. Esta é uma luta para salvar o que resta da nossa diminuída democracia. E esta é uma luta que nós não podemos perder.

Chris Hedges: Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

 

Entenda por que Assange é considerado um herói do jornalismo investigativo e mobiliza entidades de direitos humanos

Preso desde 2019 no Reino Unido, ele revelou importantes segredos de guerra

247 – Preso desde 2019 no Reino Unido, Julian Assange é um jornalista, ativista e fundador do site Wikileaks, que ficou famoso por divulgar informações confidenciais e documentos secretos de governos, empresas e organizações ao redor do mundo.

A importância de Assange para o jornalismo mundial está relacionada com a sua defesa da liberdade de imprensa e da transparência governamental. Ele acreditava que a sociedade tem o direito de saber o que seus governos estão fazendo em seu nome e que o jornalismo tem o dever de investigar e divulgar informações relevantes para o público.

Assange foi responsável por divulgar informações importantes, como os documentos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que mostraram conversas entre diplomatas americanos e líderes de outros países e revelaram ações secretas dos Estados Unidos no exterior, assim como a ação durante a invasão do Iraque.

Assange também contribuiu para o desenvolvimento do jornalismo investigativo, ao incentivar a publicação de informações confidenciais e ao promover o uso da tecnologia para proteger a identidade de fontes e jornalistas.

O papel de Assange na guerra do Iraque

Julian Assange e o Wikileaks divulgaram vários documentos secretos sobre a guerra do Iraque, que revelaram informações importantes sobre a atuação dos Estados Unidos e de outros países no conflito.

Um dos documentos mais divulgados foi um vídeo que ficou conhecido como "Collateral Murder", que mostrava um ataque aéreo dos Estados Unidos em Bagdá, em 2007, que matou 12 pessoas, incluindo dois funcionários da agência de notícias Reuters. O vídeo mostrou soldados americanos atirando em civis desarmados, incluindo um motorista de táxi e crianças que estavam próximas ao local do ataque. A divulgação do vídeo gerou indignação em todo o mundo e levantou questões sobre a conduta dos soldados americanos no Iraque.

Além disso, o Wikileaks divulgou milhares de relatórios militares confidenciais que mostravam o número de civis mortos no conflito, ações violentas cometidas por soldados americanos e outras informações que colocaram em dúvida a versão oficial dos Estados Unidos sobre a guerra do Iraque.

Os documentos também revelaram que os Estados Unidos permitiram que tropas britânicas e americanas entregassem prisioneiros iraquianos a grupos de milícias que os torturaram e mataram. Além disso, os documentos mostraram que as forças americanas mantiveram um registro de 109.032 mortes no Iraque, incluindo 66.081 civis, entre 2004 e 2009.

A divulgação desses documentos e informações trouxe à tona questões importantes sobre a conduta dos Estados Unidos e de outros países no conflito, e teve um impacto significativo na opinião pública sobre a guerra no Iraque.

Na Inglaterra, Lula defende soltura de Assange e cobra mobilização da imprensa mundial: "prisão vergonhosa"

"O jornalista denunciou que um Estado estava vigiando os outros e isso virou crime contra ele? E a imprensa não faz um movimento para libertar esse cidadão?", questiona o presidente.

6 de maio de 2023, 13:30 h Atualizado em 6 de maio de 2023, 13:30

247 - Durante coletiva de imprensa em Londres neste sábado (6), o presidente Lula (PT) defendeu a soltura do jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks preso por revelar ao mundo documentos do Departamento de Estado dos EUA, que mostraram conversas entre diplomatas americanos e líderes de outros países e revelaram ações secretas do país no exterior, assim como a ação durante a invasão do Iraque.

Assange está preso justamente em Londres, a cerca de 10 km onde o chefe de Estado brasileiro falou com jornalistas na manhã de hoje. O jornalista aguarda um caso de extradição para os EUA.

"Eu acho uma vergonha. É uma vergonha que o Assange, um jornalista que denunciou falcatruas de um Estado contra os outros, esteja preso, condenado a morrer na cadeia, e a gente não faça nada para libertá-lo. É um negócio maluco, a gente que briga e fala em liberdade de expressão, e o cara está preso porque denunciou as falcatruas. E a imprensa não se mexe na defesa desse jornalista, eu sinceramente não consigo entender", declarou Lula quando questionado sobre o tema. 

O presidente reforçou que conversará com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, por telefone sobre o assunto quando retornar ao Brasil, e cobrou uma mobilização da imprensa internacional em defesa de Assange: "eu até peço perdão porque foi um assunto que esqueci de falar com o primeiro-ministro, vou ligar para ele quando chegar no Brasil. Acho que é preciso um movimento da imprensa mundial em defesa da liberdade dele. Na defesa da liberdade para denunciar as coisas". 

"Ele denunciou que um Estado estava vigiando os outros e isso virou crime contra o jornalista? E a imprensa, que defende a liberdade de imprensa, não faz um movimento para libertar esse cidadão?", questionou Lula.

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LULA NÃO TEM FORÇA PARA ENFRENTAR QUESTÕES MILITARES AGORA, DIZ HISTORIADOR 14 Jan 2023 4:36 AM (2 years ago)

Matéria reproduzida do site da BBC News – de 06/01/2023 (Atenção: entrevista feita antes do quebra-quebra nas sedes dos poderes em Brasília, dia 08/01/2023)


Especialista em estudos sobre a ditadura militar, Carlos Fico é autor de livros como 'O Golpe de 1964: Momentos Decisivos'© Julia Dias Carneiro/BBC News Brasil

 

O historiador Carlos Fico, estudioso da Ditadura Militar (1964-1985), considera que é "compreensível" a opção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de adotar uma postura conciliadora com as Forças Armadas no início do seu governo.

Na sua avaliação, o petista não tem força para enfrentar agora o antigo problema brasileiro de "intervencionismo militar" na política, após ter sido eleito em uma vitória apertada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, governo em que as Forças Armadas alcançaram o maior espaço desde a redemocratização.

"Qualquer governo que assumisse agora teria dificuldade (na relação com os militares), a não ser que fosse de extrema-direita novamente. Então, acho compreensível a tentativa de acalmar os ânimos", afirmou em entrevista à BBC News Brasil.

"Compreendo que seja impossível enfrentar os problemas que existem na relação dos militares com a política, dos militares com os civis, depois de toda uma longa trajetória de falas políticas indevidas, de indisciplina, de quebra da hierarquia, de tudo que aconteceu no governo Bolsonaro", acrescentou.

Para o professor titular de História Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a politização das Forças Armadas aumentou a partir do governo de Michel Temer e, em especial, nos últimos quatro anos, mas é um problema "estrutural, extremamente complexo", que se reflete no "excesso de atribuições indevidas" atribuídas aos militares pelas constituições brasileiras ao longo dos séculos.

Fico diz que isso permanece na Constituição atual por meio do artigo 142, que estabelece que "as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".

Segundo o historiador, essa redação foi incluída por lobby dos militares e dá margem para interpretações equivocadas que atribuem às Forças Armadas um pretenso papel moderador sobre os três Poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Apesar de considerar que isso "fragiliza muito a institucionalidade da democracia brasileira", o historiador não acredita que haverá qualquer tentativa de mudar esse trecho da Constituição nos próximos anos.

"A alteração disso é uma coisa que criaria um tumulto muito grande entre os militares. Muito maior do que, por exemplo, foi a Comissão Nacional da Verdade (durante o governo Dilma Rousseff)", afirma.

"Precisa de um Presidente da República muito forte pra enfrentar esse tipo de problema. No momento, a gente está no início do governo, vindo de uma eleição que foi disputada quase que, diria, voto a voto. Então, temo que isso vá ter que aguardar um pouco", reforçou em outro trecho da entrevista.

Lula escolheu o político conservador José Múcio (PTB) para o Ministério da Defesa e nomeou como comandante das três forças os generais-oficiais mais antigos: general Julio César de Arruda (Exército), almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).

Apesar de considerar as escolhas compreensíveis dentro de uma estratégia de conciliação, Fico considerou "muito ruim" a antecipação da nomeação dos comandantes para antes da posse de Lula, após pressão das Forças Armadas.

Ele também criticou a declaração de Múcio de que os acampamentos em frente aos quartéis pedindo um golpe militar após a eleição de Lula, justamente como base no artigo 142 da Constituição, seriam uma "manifestação democrática".

"É um equívoco, um excesso de zelo dele. Ele não é tão habilidoso assim como se propaga, pelo visto, né?", questionou Fico.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - Como avalia esse início de relação do governo Lula com os militares? A escolha de um ministro da Defesa conciliador foi adequada, ou deveria haver um enfrentamento mais duro à politização das Forças Armadas?

Carlos Fico - Qualquer governo que assumisse agora teria dificuldade, a não ser que fosse de extrema-direita novamente. Então, acho compreensível a tentativa de acalmar os ânimos, de não trazer temas que são realmente problemáticos na trajetória histórica das Forças Armadas para serem discutidos neste momento.

Não sei se no futuro haverá espaço para isso. Eu acho que durante muito tempo não vai haver. Então dá pra entender a escolha de um ministro com esse perfil de conciliação.

O que eu não gostei mesmo foi de ter havido aquela pressão para o presidente, ainda presidente eleito, fazer a nomeação logo de um ministro com esse perfil, inclusive sob pena de alguma insubordinação, que afinal acabou acontecendo. Então, me pareceu ruim que o Lula tivesse cedido àquela pressão. Houve aquela hipótese dos comandantes renunciarem e isso funcionou como uma forma de pressão. E, afinal de contas, acabou que eles deixaram os cargos mesmo antes da transmissão de cargo de comandante.

O próprio ministro da Defesa também deixou o cargo antes. É uma coisa ruim que não tenha tido transmissão de cargo e que os comandantes indicados por Lula tenham sido nomeados como interinos pelo Bolsonaro. Então, já começou meio mal.

Mas eu compreendo que seja impossível enfrentar os problemas que existem na relação dos militares com a política, dos militares com os civis, depois de toda uma longa trajetória de falas políticas indevidas, de indisciplina, de quebra da hierarquia, de tudo que aconteceu no governo Bolsonaro.

BBC News Brasil - Por que a saída dos comandantes das Forças antes da posse de Lula é algo tão ruim?

Carlos Fico - Os comandantes militares do período do Bolsonaro não queriam, digamos, prestar continência para o Lula. Parece um problema menor para as pessoas no geral, mas no contexto do ambiente militar isso tem grande significação simbólica.

Então, para evitar perfilar e fazer continência ao novo presidente, os comandantes militares da época do Bolsonaro começaram a discutir uma proposta do antigo comandante da Aeronáutica de renunciar no dia 23 de dezembro e Bolsonaro, então, nomearia interinamente os novos comandantes indicados pelo Lula, que foram escolhidos pelo critério de antiguidade. Por que esse critério foi escolhido? Naturalmente, porque não há como contestar.

Eventualmente, o Presidente da República e o ministro da Defesa poderiam ter preferência por um outro general, um outro brigadeiro e um outro almirante, não necessariamente o mais antigo. Preferência, sei lá, por trajetória profissional, perfil político, qualquer coisa assim. Então, a escolha do critério da antiguidade pelo ministro da Defesa também faz parte dessa estratégia de conciliação.

Esse tipo de pressão é indevida e me pareceu muito negativa. Lula não foi capaz de resistir à pressão dos militares. Poderia ter sido o próprio Múcio, que é um perfil conciliador, e, em seguida, o Múcio nomearia os comandantes, e os antigos comandantes do Bolsonaro, como sempre aconteceu, fariam a transmissão do cargo pro novo comandante. Então, essas cerimônias (de transmissão de cargo) são tradicionais e não estão acontecendo.

 

BBC News Brasil - Múcio disse a jornalistas, após a cerimônia para assumir o cargo, que os atos na frente dos quartéis seriam democráticos. Como vê essa fala?

Carlos Fico - É um equívoco, um excesso de zelo dele. É claro que manifestações que peçam intervenção militar ou golpe militar são antidemocráticas e deveriam ser coibidas. Isso aí é muito ruim, muito negativo e certamente desnecessário. Não havia a menor necessidade. Mesmo com essa estratégia conciliadora, apaziguadora, não haveria necessidade de ele dar essa declaração. Ele não é tão habilidoso assim como se propaga, pelo visto, né?

BBC News Brasil - Após esse início conciliador, há algo que o governo Lula possa fazer para reduzir a politização das Forças Armadas?

Carlos Fico - Eu acho que a simples existência de um governo democrático, funcional e racional colabora no sentido de uma despolitização mais explícita. Na verdade, essa atuação indevida dos militares na política vem acontecendo com mais visibilidade desde o governo Michel Temer (2016-2018). E, no governo Bolsonaro, o presidente da República todo dia, praticamente, fazia um investimento nessa presença política das Forças Armadas, como se elas fossem dar o golpe. Então, o fato disso deixar de existir já é, por si só, muito positivo.

Agora, esse não é um problema pontual que começou com o Temer e se agravou com o Bolsonaro. Esse é um problema histórico, de longa duração. Vem desde o fim da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), ainda durante o Império, no século 19. Ele atravessou todo o período republicano e, inclusive, tem uma dimensão, como eu sempre falo, constitucionalizada, que é o famoso artigo 142 da Constituição, que foi muito mal redigido e dá atribuições excessivas às Forças Armadas.

Muitos oficiais generais entendem que o artigo 142, assim como outros artigos de Constituições passadas, daria — o que é equivocado, mas muitos oficiais generais acham — às Forças Armadas o papel de moderador. É um problema estrutural, extremamente complexo. Na tradição constitucional brasileira, a atribuição das competências das Forças Armadas sempre foi excessiva, em competências indevidas.

É um problema que ultrapassa a crise criada pelo Bolsonaro e que vai ser muito difícil resolver. Não imagino que isso (a atual redação do artigo 142) vá ser sequer enfrentado durante os próximos quatro anos. Não sei quando será possível a gente ter um ambiente político para enfrentar esse problema, o que fragiliza muito a institucionalidade da democracia brasileira.

 

BBC NEWS Brasil - Então, na sua avaliação, o Congresso precisa aprovar emenda constitucional redigindo novamente esse artigo?

Carlos Fico - Exatamente. Parte desse artigo é muito ruim porque, durante a Assembleia Constituinte de 1987, 1988, quando a gente tinha saído há poucos anos da ditadura, havia uma preocupação grande do Ministro General Leônidas Pires Gonçalves, que era ministro do Exército do governo José Sarney (primeiro presidente Civil após o fim do regime militar), mas muito duro, muito preocupado com a tradição.

Ele fez um lobby muito forte na Constituinte e conseguiu garantir duas coisas que integram a tal tradição constitucional: a Garantia da Lei e da Ordem, que é um papel de polícia que já não deveria haver, e também a garantia dos poderes constitucionais. Essa expressão, sobretudo, é que é ruim.

A Constituição diz que compete às Forças Armadas aquelas coisas tradicionais em qualquer país, a defesa da pátria contra ameaças externas, e também a Garantia da Lei e da Ordem e dos poderes constitucionais. Sobretudo essa última expressão ficou muito confusa, dúbia. Ninguém sabe exatamente o que isso significa. Porque garantir os poderes constitucionais, ou seja, o Congresso, o Executivo, o Judiciário, é um papel de todo mundo, né? E quem ameaça esses poderes constitucionais? Então isso fica ao arbítrio das Forças Armadas.

O Supremo Tribunal Federal fez uma decisão liminar interpretando o artigo 142 e dizendo: "não, não tem essa história de intervenção (dos militares nos demais Poderes), nada disso, não é isso que a passagem quer dizer". A mesa da Câmara também se manifestou, durante o governo Bolsonaro, dizendo que não. E, portanto, só pelo fato do Supremo e da mesa da Câmara terem sido obrigados a se manifestar, você vê que há um problema aí.

Tem essa interpretação otimista, que é claro que eu concordo com ela, mas a verdade é que qualquer pessoa que leia esse artigo vai ver que ele tem esse problema que eu mencionei. A alteração disso é uma coisa que criaria um tumulto muito grande entre os militares. Muito maior do que, por exemplo, foi a Comissão Nacional da Verdade (durante do governo Dilma Rousseff). O relatório da Comissão (responsabilizando militares pela tortura e assassinato de opositores da ditadura) gerou muita insatisfação entre os militares e também está na origem, vamos dizer, dessa antipatia que eles têm contra o PT, Lula, e, sobretudo, a Dilma.

Então são vários focos de problemas, mas o principal é essa tradição histórica, que vem desde o século 19, de várias intervenções militares, que acabou levando a diversas constituições, inclusive a primeira, de 1891, a darem essa atribuição excessiva, que agora se expressa nessa passagem do artigo 142 (da Constituição de 1988).

 

BBC News Brasil - Houve um excesso no uso das operações de Garantia da Lei e da Ordem, a partir dos governos petistas?

Carlos Fico - Essa utilização das Forças Armadas como força policial é claramente indevida. É claro que existe em outros países também, como no Brasil, previsão para esse uso no caso de situações extremamente dramáticas. Mas elas não podem ser banalizadas. Acredito que, com o tempo, a criação de forças especiais, federais, talvez vinculadas à Polícia Federal, vai acabar resolvendo esse problema.

Porque esse é um caso de problema estabelecido pelo artigo 142 que prevê exatamente a Garantia da Lei e da Ordem para as Forças Armadas. Então você vê como ele é terrível. O artigo 142 é escrito mais ou menos da seguinte maneira: às Forças Armadas competem isso, aquilo e aquilo, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de um deles, a Garantia da Lei e da Ordem.

Então, só a Garantia da Lei e da Ordem tem a previsão de iniciativa de um dos três poderes. Por isso que eu digo que a garantia dos poderes constitucionais é precária. E, para finalizar, tem o seguinte: se um presidente do Congresso ou presidente do Supremo pedem a aplicação da Garantia da Lei e da Ordem, quem decide, em última instância, é o presidente da República, conforme a lei que regulamenta o artigo 142. Então, você vê que é uma coisa cheia de detalhes, cheia de problemas.

BBC News Brasil - Então os outros Poderes podem chamar as Forças Armadas a atuar, mas é o presidente que tem a palavra final?

Carlos Fico - Era o receio que havia agora durante a eleição. Então, vamos supor que houvesse uma iniciativa de bolsonaristas mais radicais ainda, contestando as eleições, invadindo, sei lá, o Congresso, o TSE, e o Congresso ou o Supremo pedissem a aplicação da Garantia da Lei e da Ordem. Quem ia decidir? Seria o Bolsonaro. Ele poderia dizer: "não, não precisa, isso é uma manifestação democrática", e ficaria por isso mesmo. Então você vê que tem vários problemas que, inclusive, vão para o plano da legislação.

BBC News Brasil - O presidente Lula não citou as Forças Armadas nos dois discursos de posse. Seria mais um movimento para distensionar a relação, não provocar os militares?

Carlos Fico - Talvez não distensionar ou não provocar, mas sobretudo talvez não dar muita importância, o que seria positivo.

Na geração que me antecede, que é um pouco mais velha do que eu, e que, portanto, enfrentou mais diretamente a ditadura, eu acho que tem um problema geracional na relação com militares. Então, todos os presidentes democratas, como Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, têm esse perfil. Eu não sei se é medo, se é uma atitude um pouco de covardia, mas tiveram muita cautela na relação com os militares. E, portanto, nunca enfrentaram, vamos dizer assim, de frente esses problemas que mencionei.

Espero que, com o tempo, isso se dissolva para que esse velhíssimo problema, o intervencionismo militar, seja enfrentado de frente, com maior segurança, maior clareza. Porque não dá pra você ter uma democracia consolidada sem a proeminência do poder civil. E isso tem uma dimensão que é simbólica também. Não é só constitucional, mas é simbólica. A maneira como os presidentes da república se relacionam com os militares, me parece que sempre houve, desde o fim da ditadura, esse excesso de reverência.

 

BBC News Brasil - No primeiro governo Lula havia um contexto mais favorável para a despolitização das Forças Armadas do que agora? Foi uma oportunidade perdida?

Carlos Fico - Sim, sobretudo o governo Fernando Henrique, que conseguiu um grande avanço com a criação do Ministério da Defesa. E, no caso do governo Lula, sobretudo depois dos três primeiros anos, em que havia aquele temor sobre o que o Lula vai fazer, o que não vai fazer, e aí ficou claro que era um governo democrático, fortalecido pelo sucesso do próprio governo. Portanto, esses dois momentos foram perdidos.

No governo da Dilma, eu acho que não havia, por conta do passado de militante da esquerda revolucionária. Mas, no caso do Lula e do Fernando Henrique Cardoso, esse problema poderia ter sido enfrentado. Aliás, Fernando Henrique Cardoso foi um dos constituintes que tentou melhorar o tal artigo 142 e não conseguiu. Assim como outros, José Genoíno, Afonso Arinos de Melo Franco. Mas, enfim, já perdemos algumas oportunidades, com certeza.

Agora, vai depender muito do que vai acontecer nos próximos anos, porque precisa de um Presidente da República muito forte pra enfrentar esse tipo de problema. No momento a gente está no início do governo, vindo de uma eleição que foi disputada quase que, diria, voto a voto. A diferença (de Lula sobre Bolsonaro) foi muito pequena. Então, temo que isso vá ter que aguardar um pouco.

BBC News Brasil - Voltando aos acampamentos na frente dos quartéis contra a eleição de Lula: as Forças Armadas foram coniventes?

Carlos Fico - Houve uma conivência dos comandantes bolsonaristas e do próprio Ministro da Defesa bolsonarista. Porque é claro que o Bolsonaro queria manter aqueles acampamentos. Houve claramente conivência porque eles deveriam ter convocado as polícias militares locais para coibir os excessos dos manifestantes. E, mesmo, estarem acampados ali, naquela região que é de segurança militar, é uma coisa completamente sem sentido. Porque eles não permitem nem que você passe sem parar com o carro nessas regiões, e permitiram um acampamento totalmente heterodoxo.

Agora, tem uma outra coisa também que é o papel do Congresso Nacional e dos governadores. Quer dizer, os governadores de Estado não poderiam mandar PMs simplesmente desmontar aquilo, mas poderiam falar com os comandantes das unidades militares no estado: "olha, dá um jeito nisso, faz alguma coisa". Não houve nada disso. Porque os governadores do Rio, de São Paulo, de Minas Gerais são rescaldos do bolsonarismo. E tampouco o Congresso Nacional fez qualquer coisa. Até porque tem o perfil político que tem. Então foi um conjunto de falta de iniciativas que, certamente, no caso dos comandantes, caracteriza conivência.


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NÚMEROS INDICAM FAVORITISMO DE LULA, MESMO COM DERROTA NO SUDESTE 9 Oct 2022 7:08 AM (2 years ago)

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
"Cenário aponta para a derrota do bolsonarismo - ainda que por margem mais estreita do que gostaríamos de ver"

Por Rodrigo Vianna – jornalista, âncora do programa Boa Noite 247 – em 05/outubro/2022 (atualizado em 06/outubro/2022)

Lula teve ótima votação no primeiro turno, dentro de um cenário que este jornalista por exemplo sempre desenhou nas transmissões da TV 247: o mais provável, pela história e pelas curvas dos candidatos, sempre foi eleição em dois turnos. Então, 48,5% dos votos para alguém perseguido durante quase dez anos foi uma vitória tremenda.

O que espantou os setores democráticos foi a arrancada para a vitória no Congresso de personagens nefastos ligados a Bolsonaro, aliada ao fato de que o capetão obteve 43% dos votos, ficando a apenas 5 pontos de Lula.  

Nos últimos dias, vejo certo desespero entre apoiadores de Lula e da Democracia. "Ah, Bolsonaro teve 1,7 milhão de votos de vantagem sobre Lula em São Paulo, isso é muito perigoso".

Oh, que espanto! Perigoso, é. Mas o PT desde 2006 perdeu todas as eleições presidenciais em São Paulo. Mesmo assim, foi capaz de ganhar nacionalmente (com exceção de 2018).

Dessa vez, a derrota em São Paulo não foi feia. Lula venceu na capital e na região metropolitana. Ganhou ou perdeu por pequena diferença em cidades médias/universitárias (Araraquara, São Carlos). E perdeu por margem maior no interior profundo - que tem hegemonia do agro e identidade mais próxima com o Centro Oeste do Brasil.

Foi um susto? Ok. Mas a turma talvez esteja esquecendo de olhar para a fortaleza impressionante que Lula tem no Nordeste.

"Ah, são estados menos populosos do que São Paulo, então não fazem tanta diferença". Opa, calma. Olhe para os números que trago a seguir.

Só no estado do Ceará, Lula abriu 2,2 milhões de votos de diferença no primeiro turno. Ou seja: o Ceará compensou a derrota em São Paulo. E ainda sobraram quase 500.000 votos de lambuja para equilibrar também a derrota petista no Espírito Santo. A equação é: CE = SP + ES.

Da mesma forma, a vantagem estrondosa obtida por Lula na Bahia (um estado imenso) compensou a derrota no Rio, Paraná e Santa Catarina. 

O resumo é: Lula perdeu "de pouco" em SP/RJ e ganhou "de muito" no Nordeste. Motivo para salto alto? Nenhum. Mas tampouco para desespero.

Sejamos pessimistas e imaginemos que Lula não consiga recuperar terreno no Sudeste e no Sul, no segundo turno. Pensemos no seguinte quadro:

- Bolsonaro amplia a diferença em São Paulo, no segundo turno, para 2,5 milhões de votos sobre Lula;

- no Rio, a diferença pró Bolsonaro cresce de 1 milhão para 1,5 milhão de votos;

- e em Minas o apoio de Zema faz mágica e Bolsonaro inverte o jogo, em vez da derrota por 600 mil votos ocorrida dia 2, livra agora 600 mil votos sobre Lula, numa virara inédita em terras mineiras.

Somando isso tudo, Bolsonaro teria uma diferença de 5 milhões de votos no Sudeste. É bastante, eu sei. Mas é menos da metade da diferença que Lula deve abrir no Nordeste.

Bolsonaro tem apoio e máquinas estaduais em Minas, São Paulo e Rio. Lula tem apoio e máquinas fortes no Ceará, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e também no Pará da família Barbalho.

A seguir, uma simulação da diferença de votos, por região, supondo que no segundo turno Bolsonaro amplie a vantagem onde já venceu no primeiro (Sudeste, Sul e Centro Oeste), conquistando a maior parte dos eleitores de Ciro/Tebet/Outros e alguns brancos/nulos/abstenções; enquanto Lula faria movimento semelhante, ampliando as margens nos estados onde já venceu (Nordeste e parte do Norte).

* Sudeste: Bolsonaro abre 5 milhões de votos

(2,5 milhões SP, 1,5 milhão RJ, 600 mil MG, 400 mil ES)

* Sul: Bolsonaro abre 3,5 milhões de votos

(1,5 milhão PR, 1,5 milhão SC, 500 mil RS)

* Centro Oeste: Bolsonaro abre 1,5 milhão de votos

* Norte: Lula abre pequena vantagem de 500 mil votos, graças ao peso do Pará lulista

* Nordeste: Lula abre 13 milhões de vantagem 

(4 milhões BA, 2,5 milhões CE, 2 milhões PE, 1,5 milhão MA, 1 milhão PI, 2 milhões PB/AL/SE/RN)

A vantagem de 10 milhões de votos de Bolsonaro - obtida no Sul, Sudeste e Centro Oeste - é revertida pela diferença brutal pró-Lula no Nordeste: 13 milhões, pelas minhas simulações (feitas sem exagero, e sendo sempre mais "otimista" com Bolsonaro). 

Isso quer dizer que, por essa simulação "pessimista" para Lula, o petista ainda teria vantagem por margem entre 3 e 4 milhões de votos - muito parecida com a vitória de Dilma em 2014.

Agora, esqueça as contas.

O mais provável é que a vitória de Lula não seja tão apertada, porque ele tem condições de recuperar terreno no Rio (com Eduardo Paes e o PDT de Rodrigo Neves entrando pesado na campanha), reduzir danos em São Paulo e segurar vantagem pequena/empate em Minas. O Rio Grande do Sul é outro estado em que Lula pode reduzir diferença, a depender da aliança local com Leite do PSDB. 

Por isso tudo, sigo a dizer: o mais provável é que Lula chegue ao fim do segundo turno com uma vantagem na casa de 53 x 47 ou até de 54 x 46.

Não se trata do que dizem pesquisas, mas do voto lulista profundamente enraizado no Nordeste, em parte de Minas e em periferias de capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.  

Lula é favorito - a não ser que Bolsonaro consiga tirar uma quantidade significativa de votos do próprio Lula no segundo turno, algo absolutamente inédito (líder do primeiro turno jamais reduziu seu montante no segundo turno, desde 1989) e algo que a extrema-direita não conseguiu fazer até agora, mesmo batendo em Lula durante meses de campanha.

A vitória está garantida? Não. Será preciso lutar muito pela defesa da Democracia. Mas o cenário aponta para a derrota do bolsonarismo - ainda que por margem mais estreita do que gostaríamos de ver.

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SEABRA: MAIORIA DOS ELEITORES DERROTA PREFEITO E CONFIRMA FAVORITISMO DE JERÔNIMO 5 Oct 2022 4:45 PM (2 years ago)

Rui Costa e Jerônimo (Foto: Internet)

Candidato do PT teve mais do dobro dos votos de ACM Neto: 17.363 (66,79%) x 7.855 (30,22%)

Por Jadson Oliveira (jornalista) - editor deste Blog Evidentemente - em 05/outubro/2022

Cumpriu-se a previsão: Jerônimo Rodrigues (PT), apoiado por Lula e pelo governador Rui Costa, foi amplamente vitorioso no município de Seabra, no coração da Chapada: obteve 17.363 votos (66%), enquanto ACM Neto (União Brasil) ficou nos 7.855 (30%).

O apoio do prefeito Fábio Lago Sul ao ex-prefeito de Salvador, anunciado três semanas antes da votação, mostrou ter sido energicamente reprovado pelos eleitores.

Não por acaso a maioria dos seabrenses tinha lançado contra o prefeito a pecha de “traidor” e “ingrato”, diante da atitude de Fábio depois do município ter sido beneficiado por inúmeras obras do governo petista.

A incompetência política do prefeito e o consequente desgaste ficaram comprovados nas urnas, como já tinha sido alardeado pelo governador, pelos dirigentes petistas locais e por outras lideranças, a exemplo do deputado federal Jorge Solla (PT), reeleito e um dos mais votados no município (2.271 votos).

Tal desgaste, aliás, ficou claro logo após a troca de lado do prefeito: o seu vice, Marlon Leite, anunciou que mantinha seu posicionamento ao lado de Jerônimo; e o próprio Fábio, para tentar ficar bem com o povo, anunciou que continuaria apoiando Lula, apesar de não apoiar seu candidato a governador na Bahia.

No próximo dia 30, no 2º. turno, lideranças do governo baiano e do PT de Seabra não têm dúvidas de que Jerônimo ampliará, ainda mais, sua vantagem sobre Neto.

Não só em Seabra, mas também no total do estado, onde o candidato do PT chegou a 49,45% dos votos (ACM Neto teve 40,80%): faltou menos de 1% para Jerônimo vencer no 1º. turno.

Registrando o placar, para presidente, em Seabra: Lula – 22.505 votos (83,85%) x Bolsonaro – 3.397 (12,66%).

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“É FÁCIL PEDIR VOTO PRA LULA” 27 Sep 2022 8:47 AM (2 years ago)

(Foto: Internet)
“Vocês estão perdendo o tempo aqui, eu e minha família, todo mundo aqui já vota em Lula”

Por Jadson Oliveira (jornalista) – editor deste Blog Evidentemente – em 27/09/2022

“É fácil pedir voto pra Lula, todo mundo gosta dele”, me diz um senhor de uns 70 anos, sentado num tamborete em frente duma casa comercial na pracinha principal do povoado de Lagoa da Boa Vista, município de Seabra, na Chapada, interior da Bahia. Boa recepção a um pequeno grupo de militantes que fazia campanha para “o time de Lula”, a menos de duas semanas da votação.

É fácil, é estimulante. É de atiçar os sentimentos ver uma garota de seus sete anos pedir uma estrela do PT e ficar extasiada ao receber, colar no peito e sair sorrindo pela boca e pelos olhos, como se acabasse de ganhar um presente realmente precioso. Certamente o foi, procuremos nós entender o valor simbólico daquilo para uma garotinha do interior do Nordeste brasileiro!

Tais manifestações são quase unanimidade. Mesmo com a existência dos chamados “cabos eleitorais”, que têm compromissos os mais diversos com determinadas lideranças políticas - às vezes velhos “caciques” - a troco de serviços e mesmo da famigerada “compra de voto”. Ainda, infelizmente, uma instituição que viceja impunemente numa sociedade marcada pela desigualdade social.

Mas, “Lula é Lula”, como a gente diz. Até os velhos e novos “caciques” se dizem lulistas, sinceramente ou não. Afinal, eles não querem se arriscar a contrariar o coração do povo e perder votos para seus candidatos que realmente lhes importam, gente que despreza o povo e se acostumou a mamar no dinheiro público.

Lula é diferente. Apesar de caluniado anos seguidos pela TV Globo, a mando dos gordos capitalistas seus patrões, Lula cada vez mais mora no coração das pessoas simples do interior, do pequeno agricultor, do pequeno comerciante, do trabalhador... Eles não esquecem como foram beneficiados nos governos petistas.

Os militantes – incansáveis sonhadores, às vezes chamados de visionários ou idealistas - vão se acercando para distribuir os “santinhos” e se surpreendem, alegremente, diante da reação do povo:

- Vocês estão perdendo o tempo aqui, eu e minha família, todo mundo aqui já vota em Lula.

- A gente aqui só vota no homem que defende os pobres.

- Vocês me desculpem, vou ser logo sincero, não adianta me pedir voto, eu tô com Lula, eu e o pessoal aqui, disse um jovem trabalhador – daria a ele em torno de 23 anos – sentando no chão, logo após encostar a enxada pra nos atender, nas proximidades do povoado.

Pintou um dizendo-se ainda na dúvida e pintaram dois dizendo-se bolsonaristas. Casos raríssimos. A maioria esmagadora é Lula. Apesar da desgraceira esparramada pelo país por Bolsonaro e seus seguidores, nesses quase quatro anos, a grande maioria teima em ressuscitar a esperança.

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"EFEITO LULA" APONTA PARA NOVA VIRADA NA ELEIÇÃO DA BAHIA 25 Sep 2022 6:57 AM (2 years ago)

Jerônimo e Lula (Foto: Internet)
Candidato petista ao governo chega ao empate técnico, pela pesquisa Atlas/Intel; e encurta 17 pontos a distância para o adversário, pelo Datafolha

Por Jadson Oliveira (jornalista) - editor deste Blog Evidentemente - artigo publicado no site Brasil 247 em 16/09/2022

Depois de amargar grande distância em pesquisas eleitorais diante do principal adversário – o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil, ex-DEM) –, na disputa para o governo da Bahia, o petista Jerônimo Rodrigues já está desfrutando de um confortável empate técnico, no primeiro turno: 40,3% contra 40,8% de ACM, segundo os números da última pesquisa AtlasIntel/jornal A Tarde, divulgados hoje, dia 15.

(O terceiro nome na corrida é o bolsonarista João Roma, do PL, que tem apenas 12,3% das intenções de voto. ACM Neto, matreiramente, foge como o diabo da cruz de ter seu nome associado ao de Bolsonaro. E não fala mal do ex-presidente Lula, diz que “tanto faz” quem seja o próximo presidente).

Uma das pesquisas anteriores, do mesmo instituto, divulgada em 17 de julho, já anunciava o bom desempenho do petista: no primeiro turno, Jerônimo aparecia com 32,6% das intenções de voto contra 39,7% de ACM Neto.

Tal façanha, claro, veio a partir da colagem do nome de Jerônimo, inicialmente um ilustre desconhecido do eleitorado (nunca tinha sido candidato a qualquer mandato eletivo), ao do ex-presidente Lula e também ao do governador Rui Costa, do PT, cuja gestão ostenta boa avaliação.

ACM Neto, ao contrário, é superconhecido na Bahia (e no Brasil). Como o nome está indicando, é neto do velho ACM (Antônio Carlos Magalhães), que mandou e desmandou na Bahia durante mais de três décadas (1970 a 2006). Foi, de fato, uma espécie de vice-rei da ditadura militar.

Datafolha na Bahia

Mesmo em pesquisas de outros institutos, com números bem diferentes – devido a critérios diversos, como a menção clara, ou não, do apoio de Lula na hora da pergunta ao entrevistado -, o crescimento rápido da candidatura de Jerônimo é patente.

É o caso, por exemplo, das duas rodadas de pesquisa do Datafolha, encomendada pela rádio baiana Metrópole. Da primeira rodada para a última, cujo resultado foi divulgado ontem, dia 14, Jerônimo conseguiu encurtar a distância para ACM Neto em 17 pontos (em apenas três semanas – a primeira foi divulgada no último dia 24):

De uma para a outra, o ex-prefeito de Salvador perdeu cinco pontos e tem agora 49% das intenções de voto, contra 28% do petista, que subiu 12 pontos em relação à rodada anterior. (O placar ficou, portanto, em 49% para Neto e 28% para Jerônimo. João Roma aparece com 7%).

Ao avaliar os números do Datafolha, Rui Costa lembrou a virada que representou sua vitória quando foi eleito pela primeira vez, em 2014.

Contou que faltando pouco mais de uma semana para o dia da votação, o Ibope (o instituto de pesquisa mais badalado na época) registrava 43% para Paulo Souto (ex-governador, o quadro mais forte do carlismo, do velho ACM) contra 27% para ele, Rui, então candidato do então governador Jaques Wagner (atual senador do PT).

“Faltando mais de duas semanas para a eleição, Jerônimo já está acima do patamar que eu tinha faltando uma semana. E eu ganhei no primeiro turno”, disse o governador, conforme declarações dadas ao jornal baiano A Tarde.

Outras lideranças do PT na Bahia, a exemplo do deputado federal Jorge Solla, acreditam também que a virada será uma consequência natural: “Jerônimo tem bons padrinhos políticos”, diz Solla, referindo-se a Lula e Rui Costa.

O “efeito Lula” é o que impulsiona tanto otimismo. Muitos inclusive esperam ganhar já no primeiro turno. O peso da influência do ex-presidente parece compreensível: pesquisas apontam que Lula, na Bahia – bem como em outros estados nordestinos -, no primeiro turno, tem mais de 60% da preferência dos eleitores, contra apenas cerca de 20% de Bolsonaro.

Por que “nova virada”?

Porque, além da virada de 2014 mencionada por Rui Costa, os militantes políticos da Bahia não esquecem a virada histórica de 2006, quando Jacques Wagner foi eleito governador pela primeira vez, enterrando o “reinado” de ACM. (Não esquecer que o antigo “cacique” era ainda vivo).

Parece o começo de uma tradição inaugurada na história recente da Bahia. Wagner tinha passado toda a campanha eleitoral amargando derrota avassaladora nas pesquisas para o candidato do então poderoso ACM, o mesmo Paulo Souto – então do PFL, que virou DEM, que virou União Brasil - derrotado por Rui em 2014.

Na noite de 1º. de outubro de 2006 (domingo de eleição), a grande surpresa (para todos habituados a confiar nas pesquisas): a contagem dos votos apontou a vitória de Wagner no primeiro turno.

Os petistas de Salvador inundaram o largo de Santana (conhecido também como largo da Dinda), no Rio Vermelho (bairro boêmio da capital baiana), onde costumam festejar suas vitórias (e chorar suas derrotas).

Foi uma noite de festa inesquecível não só para os petistas, mas para grande parte dos baianos que acalentou por décadas o sonho de varrer para a lixeira da história os tempos autoritários do “coronel” ACM (ex-prefeito de Salvador, ex-governador (duas vezes) - cargos nomeados pela ditadura -, ex-governador - terceiro mandato, desta vez eleito, em 1990 - ex-presidente da Eletrobrás, ex-senador, ex-presidente do Congresso Nacional, ex-ministro das Comunicações).

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SEABRA: “TRAIÇÃO” DO PREFEITO APIMENTA ÚLTIMAS SEMANAS DA CAMPANHA ELEITORAL 21 Sep 2022 4:08 AM (2 years ago)

Lula e Jerônimo: Seabra recebe amanhã, quinta, caravana comandada pelo governador (Foto: Internet)

Rui Costa, com o “time de Lula”, fará comício na cidade amanhã, quinta, dia 22

Por Jadson Oliveira (jornalista) – editor deste Blog Evidentemente – em 21/09/2022

Tudo indica que o prefeito de Seabra, Fábio Lago Sul, do PP, deu um tiro no pé ao mudar de lado quase às vésperas da votação, passando a apoiar ACM Neto, do União Brasil, na disputa do governo da Bahia.

Este é o tempero mais picante da eleição em Seabra, no coração da Chapada, cuja campanha está na sua penúltima semana.

 A “traição” do prefeito, como tachou a direção municipal do PT, terá a resposta mais contundente amanhã, dia 22, quando o governador Rui Costa, com a caravana do “time de Lula”, fará comício na cidade.

Em companhia, claro, de Jerônimo Rodrigues, do PT, e Otto Alencar, do PSD, candidatos ao governo e ao Senado, e de deputados e outras lideranças lulistas.

Em entrevista à Rádio Nova FM, de Seabra, dada logo em seguida ao anúncio do rompimento do prefeito, na semana passada, o governador já deu o tom da sua reação:

Acusou Fábio de mentir e caluniar o seu governo para tentar justificar a troca de lado e se disse indignado, citando detalhadamente dezenas de obras realizadas pelo governo do estado no município, em especial na área de saúde.

Sem mencionar o nome do deputado Cláudio Cajado, do PP, Rui Costa fustigou o prefeito lembrando suas ligações com políticos bolsonaristas, acostumados às práticas abusivas e clientelistas do Centrão e do Orçamento Secreto.

Antes da entrevista do governador, o deputado federal Jorge Solla, do PT, soltou nas redes sociais um vídeo com duras críticas à posição tomada por Fábio, destacando melhorias obtidas pela população seabrense através da gestão do estado e também através de emendas parlamentares.

O prefeito, aliás, parece que já tinha sentido seu desgaste, agravado a cada dia, segundo analistas, por sua incompetência   política: ainda na semana passada, ele teve o cuidado de anunciar que continuava apoiando o ex-presidente Lula na disputa pela Presidência, apesar de ter rompido com o governador.

Mas o estrago já estava feito: o vice-prefeito Marlon Leite (filho do ex-prefeito Dálvio Leite, líder de tradicional grupo político do município) já tinha anunciado que, apesar da posição do prefeito, ele continuava engajado na campanha de Jerônimo, além da de Lula e Otto.

E para completar, o comício feito em Seabra, na última sexta-feira, por ACM Neto, o novo candidato do prefeito, não atraiu um grande público.

Vamos ver o poder de mobilização do chamado “efeito Lula” e do governador no comício de Jerônimo, amanhã, quinta-feira. As comparações serão inevitáveis.

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LARANJEIRA: FORTALECER OS BANCOS PÚBLICOS É NECESSÁRIO, MAS NÃO SUFICIENTE 28 Aug 2022 6:45 AM (2 years ago)

Osvaldo Laranjeira: "É essencial e vital para a economia brasileira uma reformulação abrangente do Sistema Financeiro Brasileiro" (Foto: Smitson Oliveira)

Mais um “fragmentos” sobre o pré-programa de governo da chapa Lula-Alckmin:

O caminho deve ser a criação de bancos cooperativos, comunitários, moedas sociais, fundos rotativos, ONGs de microcrédito, pequenos bancos regionais, municipais e outras modalidades de FINANÇAS SOLIDÁRIAS 

Por Osvaldo Laranjeira – militante petista, ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia – em agosto/2022 (título e destaques acima, bem como a definição dos parágrafos, são deste blog)

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO MILITANTE -  II

Aqui, comento a Diretriz de número 80 das importantíssimas DIRETRIZES PARA O PROGRAMA DE RECONSTRUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DO BRASIL, que é um pré-programa de Governo da chapa Lula-Alckmin. O Documento diz o seguinte:

80. FORTALECEREMOS TAMBÉM OS BANCOS PÚBLICOS - COMO BB, CEF, BNDES, BNB, BASA E A FINEP - EM SUA MISSÃO DE FOMENTO AO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL E NA OFERTA DE CRÉDITO A LONGO PRAZO E GARANTIAS EM PROJETOS ESTRUTURANTES, COMPROMISSADOS COM A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DESSAS OPERAÇÕES.

Muito bom revigorar e ampliar a atuação das instituições financeiras públicas já existentes, assim como, criar novas instituições que podem ser menores e mais próximas das comunidades, tais como bancos municipais e bancos estaduais.

Fortalecer os bancos públicos, portanto, é medida necessária, mas não suficiente.  Pois, há tempos que, como diz o ex-deputado federal Hermes Zaneti em seu livro O Complô: "o Sistema Financeiro Brasileiro e seus agentes políticos sequestraram a economia brasileira", se transformando numa fonte brutal de transferência de renda de toda a população para o setor financeiro, tanto pela cobrança de altíssimas taxas de juros como através da Dívida Pública - os Bancos são os maiores detentores dos Títulos Públicos Federais.

Com a financeirização (ganhos improdutivos por meio de aplicações financeiras e especulativas) esse processo ficou simplesmente devastador: especulação em detrimento da produção.

Temos um Sistema Financeiro que se caracteriza pela obtenção de lucro acima de tudo e de todos, que cobra preços abusivos, esfola os clientes e que, como intermediário financeiro, destruiu a finalidade social do dinheiro, pois que se apropria vergonhosamente do excedente social na forma de altíssimas taxas de juros e tarifas escorchantes, além de dificultar o acesso ao crédito.

Deste modo, é essencial e vital para a economia brasileira uma reformulação abrangente do Sistema Financeiro Brasileiro para este servir às necessidades dos municípios, das comunidades, das famílias e da economia solidária, abrindo espaço para a construção das FINANÇAS SOLIDÁRIAS. Não faz bem para a economia, no seu conjunto, um Sistema Financeiro que goza de total liberdade de atuação, garantida pelos seus agentes políticos nos Governos e no Congresso Nacional.

Uma tentativa de regulação do Sistema Financeiro Brasileiro com o Artigo 192 da Constituição Federal foi totalmente frustrada, uma vez que o referido Artigo foi esvaziado e transformado numa declaração de princípios estéreis, conforme Zaneti.

Nosso Partido poderia muito bem, para além do apoio ao Governo Lula, atuar firmemente com o objetivo de propor para a Sociedade uma proposta de uma Reforma Bancária que tenha no horizonte uma intermediação financeira voltada para o reinvestimento dos ganhos financeiros na produção, e não voltada para os Paraísos Fiscais.

O Brasil precisa de um Sistema Financeiro democrático com um marco regulatório que abra possibilidades de criação de Bancos Cooperativos, Bancos Comunitários de Desenvolvimento (com captação de poupança), Moedas Sociais, Fundos Rotativos Solidários, ONGs de microcrédito, pequenos Bancos Regionais, Bancos Municipais e outras modalidades de FINANÇAS SOLIDÁRIAS.

O primeiro “fragmentos” foi postado aqui neste blog em 30/07/2022. 

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COLÔMBIA: ALGUNS DESAFIOS DO GOVERNO DO PACTO HISTÓRICO 17 Aug 2022 7:24 AM (2 years ago)

Gustavo Petro (ao centro, com microfone) e sua vice Francia Márquez (negra, batendo palmas) (Foto: reproduzida do Nodal)

Os desafios que o novo governo deverá enfrentar não têm precedentes em nenhum lugar do mundo.

Antes de tudo deverá priorizar o cumprimento do Acordo de Paz feito com as FARC (maior grupo guerrilheiro do país), completamente desrespeitado durante o período presidencial de Iván Duque.

A violência política não foi reduzida desde o triunfo eleitoral do PH (Pacto Histórico, coligação vencedora da eleição colombiana). Pelo  contrário...

O programa econômico do PH supõe profundas transformações da estrutura econômica tradicional do país.

Um dos aspectos mais destacados do programa do PH é a reforma agrária que dará acesso à terra aos camponeses sem-terra e expulsos de suas casas. Na Colômbia 46% da terra rural está nas mãos de 0,4% da população.

Na área social, o programa do Pacto Histórico supõe uma grande reviravolta quanto ao modelo neoliberal imperante.

O novo governo se propõe a implantar uma renda básica, o chamado Ingreso Mínimo Vital (Renda Mínima Vital), e gerar planos de emprego público para todo aquele que necessite por estar desempregado.


(Reproduzido do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe)

Algunos desafíos del gobierno del Pacto Histórico – Por Eduardo Giordano*

En 08/08/2022 

Este 7 de agosto tomó posesión el primer gobierno progresista de la historia de Colombia, presidido por los dirigentes del Pacto Histórico Gustavo Petro y Francia Márquez. Los colombianos votaron con el fin de superar una larga y enconada historia de violencia política y crueldad institucional, para convertir al país en una “potencia mundial para la vida”.

Los partidos y movimientos sociales de izquierda, la juventud movilizada durante el paro nacional y un entramado territorial de poblaciones tradicionalmente excluidas —indígenas, afrocolombianos…—, constituyeron el sustrato de este cambio político que vino a confrontar a las élites tradicionales y a desbaratar sus mecanismos de poder.

El triunfo electoral de la coalición progresista del Pacto Histórico (PH) es una verdadera hazaña en un país cuyos gobernantes siempre se creyeron blindados contra un eventual triunfo de la izquierda. La campaña estuvo minada de dificultades y riesgos para los candidatos de esta fuerza, amenazados constantemente por grupos paramilitares. El historial de asesinatos de candidatos presidenciales progresistas con el que cuenta el país no permitía tomar esas amenazas a la ligera.

No obstante, el resultado fue favorable al PH en la primera vuelta con más del 40 % de los votos, 12 puntos por encima del siguiente candidato, el populista de derecha Rodolfo Hernández. En la segunda vuelta el PH obtuvo mayoría absoluta, sobrepasando el 50 % de los votos, frente al 47 % de su adversario y con una diferencia de 700.000 sufragios.

Si el triunfo electoral de la izquierda puede considerarse una auténtica proeza en un contexto tan hostil, mucho mayor es la hazaña de gobernar el país y cumplir con los objetivos propuestos a los electores.

Consciente de la dificultad de la tarea que se avecina, la fórmula presidencial triunfadora se entregó al día siguiente de la victoria electoral a contactar con otras fuerzas políticas y articular las alianzas necesarias para poder aprobar reformas en un Congreso fragmentado, donde el PH se ha convertido en la fuerza mayoritaria tras las últimas elecciones, pero numéricamente insuficiente para aprobar leyes y diseñar políticas sin contar con amplios apoyos parlamentarios.

En la mirada estratégica de Gustavo Petro, la construcción de un Estado no dominado por las mafias del narcotráfico y la parapolítica, sensible a las necesidades de la población, requiere en este momento histórico del país sumar sectores que hasta ayer hicieron campaña en su contra.

El apoyo del 50 % de la población que lo eligió sería insuficiente para acometer los cambios que se avecinan, y ha abierto las puertas de la coalición a formaciones de centro y derecha como el Partido Liberal, el Partido Conservador y el Partido de la U, acordando el carácter rotatorio de la presidencia del Senado y de la Cámara de Representantes con los nuevos aliados. Los acuerdos han supuesto también concesiones a los nuevos socios en algunos cargos del ejecutivo.

Esta estrategia ya dio un primer resultado tras la conformación del nuevo Congreso, que se constituyó el pasado 20 de julio. Apenas seis días más tarde el Senado ratificó por amplia mayoría el Acuerdo de Escazú, un instrumento básico para alcanzar un desarrollo sostenible y combatir el cambio climático, dos aspectos fundamentales del plan de gobierno del PH. Sólo votaron en contra los senadores del Centro Democrático y de Cambio Radical, partidos que boicotearon la aprobación de este acuerdo durante el período presidencial de Iván Duque.

Otro gesto político revelador fue la asistencia de varios congresistas del PH a la Cumbre de los Pueblos Originarios convocada en Silvia, Cauca, por las siete organizaciones indígenas más representativas.

Entre los resultados de esta cumbre, las delegaciones de los pueblos indígenas de toda Colombia concluyeron: “Participaremos en esta era de transición y Cambio por la Vida, bajo un relacionamiento de gobierno a gobierno, con propuestas estructurales que permitan la materialización de nuestros derechos y la transformación del país”. A fin de articular esfuerzos para hacer efectivos estos cambios, “la Cumbre ha dispuesto una comisión de interlocución directa” con el presidente Gustavo Petro.

El cambio ha llegado en primer lugar a desbaratar las viejas formas de la conducción política de los asuntos que afectan a las comunidades. El paternalismo verticalista de los sucesivos gobiernos derechistas quedaría así sustituido por un diálogo horizontal, del gobierno nacional con las autoridades locales, para atender sus reclamos y determinar sus necesidades.

Los retos

Los retos que deberá afrontar el nuevo gobierno no tienen precedentes en ningún lugar del mundo. Ante todo deberá priorizar el cumplimiento del Acuerdo de Paz con las FARC, “hecho trizas” durante el período presidencial de Iván Duque. La nueva política de seguridad deberá proveer la protección adecuada a los ex combatientes de la guerrilla reincorporados a la vida civil y acabar con los grupos paramilitares causantes de las continuas masacres y los asesinatos de líderes sociales.

La violencia política no ha mermado desde el triunfo electoral del PH. Por el contrario, hasta el 12 de julio la cifra se ha incrementado respecto al año 2021, según datos de Indepaz, hasta un total de 108 asesinatos de líderes sociales y defensores de derechos humanos (incluidos 25 líderes indígenas), 53 masacres con 185 muertos y 28 asesinatos de firmantes del Acuerdo de paz. Al mismo tiempo, el Cartel del Golfo ha asesinado a 30 agentes de la fuerza pública durante el primer semestre de este año, dejando una vez más al descubierto el fracaso de la política de seguridad de Iván Duque.

El programa económico del PH supone profundas transformaciones de la estructura económica tradicional del país. El gobierno presidido por Gustavo Petro deberá cumplir con su ambicioso plan de “desfosilización” de las exportaciones colombianas (reducir el peso del petróleo y el carbón), concentrándose en cambio en el desarrollo de tres pilares básicos de la economía abandonados por los anteriores gobiernos: la agricultura, la industria y el conocimiento, además de potenciar el turismo con un entorno pacífico.

En cuanto a la desfosilización de la economía, no se trata de interrumpir los ingresos que el país percibe por exportaciones de productos energéticos, que representan entre un tercio y la mitad del total, sino de suspender la exploración y adjudicación de nuevos yacimientos, mientras se van incorporando gradualmente energías renovables para atender el consumo interno.

El nuevo gobierno colombiano ya ha declarado que impedirá la explotación de hidrocarburos con tecnología de fracking, un viejo reclamo de las comunidades para proteger sus acuíferos. Uno de los aspectos más destacados del programa del PH es la reforma agraria que dará acceso a la tierra a los campesinos desplazados y desposeídos. En Colombia el 46% de la tierra rural está en manos del 0,4 % de la población.

En el plano social, el programa del Pacto Histórico supone un gran vuelco con respecto al modelo neoliberal imperante. Actualmente la informalidad laboral afecta al 62 % de la población económicamente activa y hay tres millones de desempleados, según datos de la Central Unitaria de Trabajadores. Sólo una tercera parte de los trabajadores activos, unos ocho millones, cotiza a la Seguridad Social. El nuevo gobierno se propone instaurar una renta básica, o Ingreso Mínimo Vital, y generar planes de empleo público para todo aquel que lo necesite por estar desocupado.

Unidad en la diversidad de América Latina

En política exterior se producirá un importante cambio de rumbo, aunque este cambio resulte poco perceptible al comienzo en las relaciones con Estados Unidos. En el transcurso del gobierno del Pacto Histórico se deberán redefinir las formas de colaboración entre ambos país, desde la política de seguridad hasta la estrategia antinarcóticos.

Una cuestión que en el futuro puede tensar la relación con el gobierno estadounidense es la permanencia o no de las bases militares de ese país en territorio colombiano y, en caso de acordarse su permanencia, con qué misión específica. Pero esta cuestión no es un debate que se vislumbre en el corto plazo.

Respecto a los maltrechos vínculos con los vecinos venezolanos, la política exterior de Petro revertirá la tensión conflictiva que mantuvo Duque durante todo su mandato, obsesionado con el acoso y derribo del gobierno de Nicolás Maduro. En contraste con la inacción característica del gobierno de Duque, el nuevo gobierno de Colombia ya emprendió su actividad diplomática incluso antes de haber tomado posesión.

El 28 de julio se reunió en la ciudad de Táchira (Venezuela) el nuevo ministro de Relaciones Exteriores designado por Gustavo Petro, Álvaro Leyva, con el ministro venezolano de Exteriores, Carlos Faría. Ambos suscribieron un acuerdo para “la normalización gradual de las relaciones binacionales a partir del 7 de agosto” con el nombramiento de embajadores y demás funcionarios del servicio diplomático, al mismo tiempo que reafirmaron su “voluntad de hacer esfuerzos conjuntos para garantizar la seguridad y la paz en la frontera”.

Mientras tanto, la vicepresidenta Francia Márquez realizó una gira por otros países sudamericanos, tejiendo lazos con las figuras más destacadas de los movimientos populares que aspiran a un cambio de hegemonía política en la región. Márquez se reunió en Brasil con el candidato (y ex presidente) Lula da Silva, en Chile con el presidente Gabriel Boric, en Argentina con Alberto Fernández y la vicepresidenta Cristina Kirchner, y por último conversó en Bolivia con el vicepresidente David Choquehuanca y con el líder histórico del MAS, el expresidente Evo Morales.

Francia Márquez escribió en sus redes sociales después de esta última visita: “Hoy la lucha del pueblo boliviano y colombiano se junta para reconocer en la diferencia una Latinoamérica unida y soberana”.

Emerge así un nuevo enfoque de las relaciones internacionales, en particular entre los países latinoamericanos, basado en la “unidad en la diversidad”. Colombia no sólo aspira a cambiar su destino para revertir su trágica historia nacional y empezar a vivir sabroso: también sería un actor fundamental para el cambio de equilibrios de poder en el plano continental.

*Periodista, traductor y escritor, coautor de diversas obras de investigación: Europa en el juego de la comunicación global, Políticas de televisión, ambas en colaboración con Carlos Zeller. También es coautor de la obra colectiva Las mentiras de una guerra: desinformación y censura en el conflicto del Golfo

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DON L: MEU DESAFIO É IMAGINAR O FIM DO CAPITALISMO 5 Aug 2022 5:56 AM (2 years ago)

 

"Coloquei o desafio de imaginar o fim do capitalismo, e não o fim do mundo”, disse rapper de Fortaleza no programa SUB40, do site OPERA MUNDI, do último dia 21 (Reprodução/Twitter/@joaoinvictor)
Brasil é extremamente violento com a esquerda, neoliberalismo está fora do espírito do tempo e capitalismo representa o velho, afirma rapper do Ceará.

PEDRO ALEXANDRE SANCHES

São Paulo (Brasil)
22 de jul de 2022

(Reproduzido do site OPERA MUNDI)


O rapper de Fortaleza (embora nascido em Brasília) Don L afirma que sua música representa uma reação ao discurso liberal que ele via no hip-hop, de celebração de conquistas individuais, e não coletivas. 

"Coloquei o desafio de imaginar o fim do capitalismo, e não o fim do mundo”, ele resume seu álbum mais recente, Roteiro para Aïnouz Volume Dois, em conversa com o jornalista Breno Altman no programa SUB40 desta quinta-feira (21/07).

Trata-se de uma maneira de inverter o tom derrotista tantas vezes adotado no Brasil, no rap ou fora dele: “a gente gosta da distopia. Todo mundo fica gozando com a distopia, falando da merda em que estamos vivendo. Eu quis falar de vitória, dentro de uma perspectiva coletiva, não individual”. 

Assim, o álbum tenta imaginar um Brasil pós-revolucionário, socialista e vitorioso, com “lastro e pé na realidade, mesmo quando cria utopias”. Seu ponto de partida é um autoquestionamento: nossos sonhos são realmente nossos ou são sonhos da publicidade?

Questionado por Altman se o mercado pode "amansar" o rap, ele responde que isso já tem acontecido, não só com o rap, e encontra na política uma possível explicação: “o Brasil exterminou fisicamente boa parte da esquerda. Não houve um julgamento disso, e a gente segue perdendo grandes lideranças assassinadas toda semana. Este país é extremamente violento com a esquerda. Fala-se que é uma democracia, mas até hoje não vi lideranças de direita ser assassinadas no nosso país”. 

O resultado, argumenta, é uma esquerda muito contida, acossada por medos fundamentados e mais propensa à conciliação, o que se reflete na música e na cultura. 

“O que a esquerda não fez é o que a direita diz que a esquerda fez e a gente deveria ter feito, que é o marxismo cultural”, provoca. “Só dois partidos têm pautas que considero realmente de esquerda, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Unidade Popular (UP), mas, no contexto em que estamos, vou acabar votando no Lula mesmo, porque o momento pede para a gente fazer isso”, decifra.

Para Don L, a eventual posse de Lula para um terceiro governo será o começo grandes novos problemas: “O Brasil precisa ser refundado. Lula fez grandes coisas, não diminuo sua história, mas tem coisas que são inconciliáveis. Precisamos tirar um pouco dessa burguesia sanguessuga que está aí desde que o Brasil foi fundado como um experimento colonial. Precisamos ter grandes sonhos".

Trilha da revolução

O rapper defende que a música popular brasileira, e não especificamente o rap, é a trilha sonora da revolução no país. “O samba é muito importante. O funk é uma música eletrônica original brasileira, considero que é hip-hop também. A diversidade da música popular brasileira é a trilha da revolução”, concilia.

Don L contesta, por fim, a ideia de que conceitos como revolução, comunismo ou luta de classes estejam ultrapassados em 2022. “Isso é o que os liberais querem fazer a gente acreditar. Não tem nada mais fora do espírito do tempo que o neoliberalismo. O capitalismo é que é o velho. O próprio planeta não aguenta mais viver com esse modo de produção. É socialismo ou barbárie, mesmo. A distopia é legal para quem está no poder usufruindo da desigualdade extrema.” 

O neoliberalismo não o convence a cravar outro ídolo político que não seja o cubano Fidel Castro: “a gente tem uma mania de derrotismo na esquerda, mas Fidel conseguiu, com uma ilhazinha desse tamanho, ali na boca do império querendo matar ele a vida inteira, construir uma experiência com seu coletivo, e o cara morreu de velho. É o maior de todos os tempos”. 

Estabelecido na cidade de São Paulo desde 2014, o rapper que veio do Ceará se emociona com as fotos da tomada de Havana por Fidel, em 1959, especialmente aquelas que mostram guerrilheiros dando voz de prisão à polícia.

Para ver o vídeo da entrevista, na íntegra, entre no Opera Mundi. Segue o link: https://operamundi.uol.com.br/sub40/75754/don-l-meu-desafio-e-imaginar-o-fim-do-capitalismo

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LARANJEIRA: “LUTAR POR UM SISTEMA FINANCEIRO CONTRA-HEGEMÔNICO SE FAZ NECESSÁRIO” 30 Jul 2022 7:30 AM (2 years ago)

Osvaldo Laranjeira: considerações sobre diretrizes do provável Governo Lula (Foto: Smitson Oliveira)

“As pessoas, os trabalhadores, as famílias, assim como as pequenas e microempresas estão quebradas em níveis alarmantes”

Por Osvaldo Laranjeira – militante político, ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia – em julho/2022 (título e destaque acima, bem como a definição dos parágrafos, são deste blog)

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO MILITANTE -  I

Começo estes Fragmentos fazendo pequenas considerações sobre algumas das recém publicadas Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, as quais constituirão o Programa do Governo Lula (se ele ganhar as eleições, claro). Como o terceiro mandato de Lula será também um Governo de coalizão, muito provável que - e aqui menciono uma circunstância atenuante, do ponto de vista e dos desejos de um militante petista - muitas limitações na aplicação do Programa acontecerão.

A Diretriz que modestamente comento é a de número 60 que assim diz:

"Como a renda familiar dos brasileiros e brasileiras desabou e o endividamento das famílias explodiu, já são mais de 66 milhões de pessoas inadimplentes, vamos promover a renegociação das dívidas das famílias e das pequenas e médias empresas por meio dos bancos públicos e incentivar os bancos privados para oferecer condições adequadas de negociação com os devedores. Avançaremos na regulação e incentivaremos medidas para ampliar a oferta e reduzir o custo do crédito".

Creio ser uma medida urgente, após a posse de Lula. Pois, de fato, as pessoas, os trabalhadores, as famílias, assim como as pequenas e microempresas estão quebradas em níveis alarmantes. Graças ao comprometimento, de parte crescente dos seus orçamentos, com o pagamento dos serviços decorrentes do endividamento financeiro, conforme Márcio Pochmann. Ou seja, quase todo mundo está "pendurado" nos Bancos ou no crediário.

Isto é muito ruim, tanto para a população quanto para a Economia, uma vez que, quando as pessoas se endividam muito, compram pouco. Sobra mês e falta salário. O efeito demanda fica travado. Se cerca de da renda das pessoas está destinado ao pagamento de despesas financeiras (juros, tarifas, etc) ocorre, de fato, uma real transferência de renda da população para os banqueiros. Como diz o Prof. Ladislau Dowbor, "o brasileiro trabalha muito, mas os resultados são desviados das atividades produtivas para a chamada ciranda financeira, que não reinveste na economia".

Uma das causas dessa situação são as altíssimas taxas de juros cobradas pelo SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO. Quem precisa recorrer às linhas de crédito existentes, tais como Cartão de Crédito, Crediário (Comércio), Cheque Especial, CDC - Bancos (financiamento de automóveis), Empréstimo Pessoal nos Bancos e Empréstimo Pessoal nas Financeiras, paga uma Taxa de Juros para Pessoa Física, em Maio/2022, em média de 117,27 % a.a., conf. a ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

Tão catastrófica quanto, é a situação das 5,5 milhões de Micro e Pequenas Empresas, cuja inadimplência bate recorde com a alta da inflação e juros altíssimos, conf. o G1 (Globo), que traz a seguinte conclusão a respeito das famílias: "endividamento e inadimplência batem novo recorde em abril: muitas delas tiveram que recorrer a empréstimos com instituições financeiras para sobreviver durante a pandemia, e agora estão tendo dificuldades para pagar as parcelas". O pior está por vir, pois as taxas de juros vêm crescendo mês a mês.

O resultado dessa situação excludente e escorchante para a população é o enriquecimento fácil de banqueiros e rentistas (Os 5 maiores bancos brasileiros - Banco do Brasil, CEF, Bradesco, Itaú e Santander - lucraram, no ano de 2021, mais de 94 bilhões de reais. Dinheiro que não é revertido para a produção social). Renegociar as dívidas, aumentar a oferta de crédito, baratear as taxas de juros são medidas corretas e necessárias. É preciso enfrentar estruturalmente a agiotagem praticada pelos intermediários financeiros de forma prioritária. Isso para, conforme Ladislau Dowbor, colocar a economia brasileira nos trilhos.

Temos um Sistema Financeiro que está na contramão das necessidades da população brasileira, sobretudo dos mais pobres. Lutar por um Sistema Financeiro contra-hegemônico se faz necessário. Já temos um horizonte que são as FINANÇAS SOLIDÁRIAS, democráticas, sustentáveis, sem agiotagem e voltadas para o desenvolvimento das comunidades.

(Conforme indica a numeração, virão outros “fragmentos”)


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“EFEITO LULA” PREPARA NOVA VIRADA NA ELEIÇÃO DA BAHIA 26 Jul 2022 5:08 PM (2 years ago)

Lula participou dos festejos do último 2 de Julho, em Salvador, ao lado de Jerônimo

O diretor da Quaest, Felipe Nunes, não tem dúvida: o "efeito Lula" já está impactando a candidatura de Jerônimo.

Por Jadson Oliveira – jornalista, editor deste Blog Evidentemente - em 26/07/2022

A última pesquisa Quaest/Genial mostra que o candidato ao governo da Bahia pelo PT, Jerônimo Rodrigues, salta de 11% para 38% das intenções de voto quando é apresentado ao eleitorado como aliado do ex-presidente Lula.

Antes do eleitor conhecer o apoio de Lula, ACM Neto (União Brasil, ex-DEM) chegava a 61% das intenções. Depois, o placar muda drasticamente de 61 x 11 para 43 x 38. Jerônimo sobe para 38% e Neto cai para 43%.

A influência do ex-presidente é compreensível: pesquisa do mesmo instituto aponta que Lula, na Bahia, no primeiro turno, tem 62% da preferência dos eleitores, contra apenas 19% de Bolsonaro.

O nome de Jerônimo, ainda pouco conhecido, é reforçado ainda pelo apoio de Rui Costa, cujo governo é muito bem avaliado pelos baianos, principalmente no interior do estado.

O diretor da Quaest, Felipe Nunes, não tem dúvida: o "efeito Lula" já está impactando a candidatura de Jerônimo.

Uma outra pesquisa – da AtlasIntel/jornal A Tarde -, divulgada no último dia 17, confirma o bom desempenho do candidato petista: no primeiro turno, Jerônimo aparece com 32,6% das intenções de voto contra 39,7% de ACM Neto (João Roma, do PL, candidato do bolsonarismo, ficaria com 10,5%).

Lideranças do PT na Bahia, a exemplo do deputado federal Jorge Solla, acreditam que a “virada” virá naturalmente no decorrer da campanha. “Jerônimo tem bons padrinhos políticos”, diz Solla, referindo-se a Lula e Rui Costa.

Ativistas com atuação na Chapada Diamantina, interior baiano, compartilham da avaliação de Solla. É o caso de José Donizette, mais conhecido como Goiano, com longa militância política e cultural na região, especialmente em Seabra, que atesta a boa receptividade da campanha Lula presidente e Jerônimo governador.

Por que “nova virada”?

Porque os militantes políticos não esquecem a virada histórica de 2006, quando o ex-governador (hoje senador) Jacques Wagner enterrou o reinado do velho ACM na Bahia.

Wagner passou toda a campanha eleitoral amargando derrota avassaladora nas pesquisas para o candidato do então poderoso ACM, Paulo Souto (do PFL, que virou DEM, que virou União Brasil).

Na noite de 1º. de outubro de 2006 (domingo de eleição), a grande surpresa (para todos habituados a confiar nas pesquisas): a contagem dos votos apontou a vitória de Wagner no primeiro turno.

Os petistas de Salvador inundaram o largo de Santana (conhecido também como largo da Dinda), no Rio Vermelho, onde costumam festejar suas vitórias (e chorar suas derrotas). Foi uma noite de festa inesquecível.

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SÃO 13 DOMINGOS DE HOJE ATÉ 2 DE OUTUBRO: CITE 13 MOTIVOS PARA SEABRA VOTAR NO PT 10 Jul 2022 2:02 PM (2 years ago)

Uma boa razão para os seabrenses votarem no PT: Hospital Regional da Chapada, em Seabra, inaugurado pelo governador Rui Costa em dezembro/2017 (Foto: Internet)

“Espero que, com Jerônimo governador e Lula presidente, possamos festejar, em breve, a sede em Seabra da Universidade Federal da Chapada”, diz Smitson.

Por Jadson Oliveira – jornalista – editor do Blog Evidentemente - em 10/07/2022

Desafiado, o ex-vereador Smitson Oliveira, dirigente municipal do partido, que vive com o 13 na bandeira e na cabeça, não hesitou:

“Agora mesmo, dou os 13 motivos, talvez mais… tudo realizações de governos do PT” – falava com um grupo de amigos, alguns petistas e outros nem tanto.

“Posso iniciar? Depois, quando a campanha de fato começar, vou pedir o voto no 13: Lula presidente e Jerônimo governador”.

E citou, com a convicção do militante petista:

1 – Instalação em Seabra do IFBA (Instituto Federal da Bahia);

2 – As casas do ‘Minha casa, minha vida’ no bairro Vila Nova;

3 – Hospital Regional da Chapada;

4 – Maternidade Regional da Chapada (antigo Hospital Frei Justo);

5 – Benefícios do programa Luz para Todos;

Smitson Oliveira, da direção municipal do PT, em manifestação na área turística do Morro do Pai Inácio, na Chapada (Foto: Divulgação)

Anúncio da participação de Lula nos festejos do 2 de Julho, em Salvador, ao lado de Jerônimo (Foto: Internet)
6 – Construção de cisternas pelo município;

7 – Reconhecimento, melhorias e construção de casas nos quilombos;

8 – Barragem em Baraúnas (antigo Jatobá);

9 – Sede própria da Uneb (Universidade do Estado da Bahia);

10 – Ampliação do Colégio Estadual;

11 – Posto de Saúde do Bebedouro;

12 – Tratores para várias comunidades rurais;

E 13 – Fortalecimento da agricultura familiar e da merenda nas escolas através do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

Smitson concluiu com entusiasmo: “Eu poderia lembrar mais obras, como a ampliação dos serviços da Embasa, a destinação de recursos para creches… mas estão aí os 13 motivos”.

E acrescentou: “Espero que, com Jerônimo governador e Lula presidente, possamos festejar, em breve, a sede em Seabra da Universidade Federal da Chapada, uma luta de anos do Projeto Velame Vivo (PVV), incorporada pelo PT e a sociedade seabrense”.

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PRIORIDADES DE LULA: CRESCIMENTO, EMPREGOS E INCLUSÃO SOCIAL 3 Jul 2022 8:01 AM (2 years ago)

Geraldo Jr., pré-candidato a vice-governador, Jerônimo, Lula e Rui Costa nos festejos do 2 de Julho, em Salvador

Jerônimo Rodrigues afirmou que
 em outubro o Brasil irá celebrar uma nova independência, iniciando um caminho para erradicar a fome, o desemprego e a inflação.

Ao participar ontem (sábado, dia 2) dos festejos do 2 de Julho baiano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claras suas prioridades, no caso de retorno à Presidência da República: “A retomada do crescimento, a geração de empregos e a inclusão social serão tarefas prioritárias em nosso governo”, declarou em discurso durante concentração popular no Estádio da Fonte Nova.

E prosseguiu, logo depois de desfilar com milhares de baianos por ruas de Salvador, ao lado do governador Rui Costa e do pré-candidato a governador pelo PT e partidos aliados, Jerônimo Rodrigues, homenageando os heróis e heroínas da luta pela independência na Bahia:

“Não pode haver avanço sem luta, e o povo brasileiro é um especialista na arte de lutar. Não há um único dia em que o nosso povo não seja obrigado a exercitar toda a sua extraordinária capacidade de resistência, sobretudo nesses quatro anos de desgoverno”, destacou Lula.

Afirmou ainda que o atual governo está “em guerra” contra o povo brasileiro. “Uma guerra que tem como armas a fome, o desemprego, a inflação, o endividamento das famílias. Que aprofunda a desigualdade, destrói patrimônios, devasta o meio ambiente, ataca a ciência e a cultura, condena o Brasil ao atraso e ao isolamento internacional e coloca em xeque a democracia e a soberania”.

“Uma guerra que tem como alvos preferenciais as mulheres, os negros, o jovem da periferia, os povos indígenas e a parcela mais pobre da nossa população” – continuou em seu discurso sob aplausos de numerosa plateia na Fonte Nova.

Lula afirmou também que “lutar por uma nova independência é defender a Petrobras, a Eletrobrás, os Correios, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, empresas que foram construídas com o suor do povo brasileiro e são peças-chave para a nossa soberania”, defendeu.

Sempre referenciando na luta simbolizada no 2 de Julho, o  ex-presidente petista lembrou que  “a independência não foi feita por um pacto entre as elites, ela foi conquistada, a duras penas, por negros, brancos, indígenas, mulheres e homens, que decidiram dar um basta à opressão”.

 

Também na Fonte Nova, Rui Costa comparou o que era o estado antes da eleição de Lula em 2003 e o que passou a ser quando o petista deixou a Presidência. “Antes de Lula, a Bahia tinha uma universidade federal. Agora, a Bahia tem seis. Antes, tinha uma escola técnica federal. Depois dele, 36”, lembrou. “O Brasil espera muito da Bahia, Lula precisa da Bahia, dos baianos. A Bahia precisa de Lula”.

 

E Jerônimo Rodrigues, em seu discurso, afirmou que em outubro o Brasil irá celebrar uma nova independência, iniciando um caminho para erradicar a fome, o desemprego e a inflação.

 

“É muito triste, machuca bastante a gente, ver quase 40 milhões de pessoas no Brasil, nossos irmãos, acordarem de manhã sem saber o que vão botar no prato dos filhos”, lamentou Jerônimo.

 

Lula, Rui e Jerônimo estiveram sempre ao lado de figuras representativas da política e dos movimentos sociais da Bahia, como os senadores Jaques Wagner e Oto Alencar e dezenas de prefeitos, vereadores, deputados e militantes sociais. Presente também o vice na chapa de Lula, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin.

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QUE CRIME ASSANGE COMETEU? 24 Jun 2022 7:37 AM (2 years ago)

 
Foto: Reuters/Henry Nicholls

Ao aprovar a extradição de Assange, o governo britânico avança na consumação de um ataque à liberdade de imprensa em escala mundial.

"Que crime Assange cometeu?", perguntou Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, durante um evento em Maceió. Lula prosseguiu: "É o crime de falar a verdade..."


Por Paulo Moreira Leite (jornalista) - Reproduzido do site Brasil 247, com o título Depois de Assange, a próxima vítima pode ser você, datado de 18/junho/2022.

 

Não é difícil compreender o que está em jogo na perseguição inclemente do governo dos Estados Unidos a Julian Assange, que já completa mais de dez anos, numa ação de Estado, que une republicanos e democratas num mesmo processo. 

"Que crime Assange cometeu?", perguntou Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, durante um evento em Maceió. Lula prosseguiu: "É o crime de falar a verdade, mostrar que os Estados Unidos, estavam grampeando muitos países do mundo, inclusive grampeando a presidente Dilma Rousseff". 


A reação de Lula está em linha com entidades democráticas do planeta, a começar pela Anistia Internacional, celebrada há décadas. "Permitir que Assange seja extraditado para os EUA o colocaria em grande risco, numa mensagem assustadora para jornalistas de todo mundo", denunciou a entidade.  Fundador do Wikileaks, Julian Assange utilizou as modernas tecnologias de informação para desvendar bastidores jamais investigados do império norte-americano, que puderam ser retratados em sua intimidade e crueza, inclusive momentos de crime e horror. Divulgou informações chocantes, diálogos vergonhosos e mesmo cenas repulsivas de tortura de prisioneiros sempre apoiado em documentos -- vídeos, fotos, gravações -- cuja autenticidade jamais seria negada. Num cotidiano onde jornalistas do mundo inteiro costumam ser processados e condenados pela divulgação de notícias falsas, ou relatos que não podem ser sustentados em provas, a situação aqui é outra. Assange é processado em função de informações verdadeiras e comprovadas. A tentativa é condená-lo por divulgar a verdade. A cada passo destinado a conduzir Assange aos Estados Unidos, onde o aguarda um julgamento em corte militar, o direito de cada um de nós ter conhecimento real a respeito de verdades ocultas sobre as forças que governam o planeta fica diminuído e até ameaçado. Não se trata de um caso individual. 

Em 1971, quando o New York Times divulgou documentos ultra-secretos sobre a atuação do governo Richard Nixon na guerra do Vietnã, o caso virou um escândalo universal mas foi tratado na esfera adequada, como liberdade de expressão.  Responsável pelo vazamento, o analista militar Daniel Ellsberg foi julgado pela Suprema Corte, onde enfrentou uma acusação que pretendia condená-lo a 115 anos. 

Apoiado pela juventude que fora as ruas lutar contra a guerra, Ellsberg assumiu suas responsabilidades pela divulgação dos papéis, alegando que, "como cidadão americano, não poderia manter essas informações escondidas do público". Acabou absolvido.

Meio século depois, o debate mudou de lugar -- e de sentido, obviamente. Num tratamento diferente daquele recebido por Daniel Ellsberg, o civil australiano Julian Assange será julgado por denúncias que envolvem a invasão do Iraque -- mas num tribunal militar, onde vigoram outras regras, outra disciplina e, acima de tudo, outros princípios. 

Para a humanidade, a questão é a mesma -- liberdade de expressão -- mas o cenário é outro. O horizonte também. A militarização do debate sobre a liberdade de imprensa não é uma iniciativa inocente. O custo é pago pela democracia, isto é, por todos nós. 

Alguma dúvida? 

(Cabe observar que o Brasil de Bolsonaro já possui -- todas as diferenças guardadas -- um caso semelhante. A anulação dos julgamentos da Lava Jato, que trouxe Lula de volta à vida pública e à campanha presidencial, só foi possível graças a Operação Spoofing, alimentada pelos diálogos entre figurões da Lava Jato. As conversas foram grampeadas pelo hacker Walter Delgatti Neto, fonte das denúncias do Intercept, que se tornaram manchete mundial. Delgatti foi investigado por várias acusações, inclusive de "organização criminosa". Nada se provou que contra ele mas segue tratado como se tivesse feito alguma coisa errada).

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#DOMEBRUNOPRESENTES – AS DIGITAIS DO MANDANTE 18 Jun 2022 6:01 AM (2 years ago)

 


(O mandante) está no incentivo à violência, no descaso na apuração, no desmonte aos órgãos responsáveis pelas políticas públicas, na perseguição à imprensa, na impunidade... Quem incentiva o crime também aperta o gatilho.

Por Mônica Bichara (jornalista)  junho 16, 2022 (Reproduzido do blog Pilha Pura)

Quem não está com um choro entalado na garganta hoje, no Brasil, está do lado do mandante. E seja lá quem for o mandante oficial dessa barbárie que abateu, num só golpe, um jornalista e um indigenista, a digital do verdadeiro culpado está espalhada por todos os lugares (pouco importa quem puxou o gatilho). Está no incentivo à violência, no descaso na apuração, no desmonte aos órgãos responsáveis pelas políticas públicas, na perseguição à imprensa, na impunidade... Quem incentiva o crime também aperta o gatilho.

Desde a primeira notícia sobre o sumiço dos dois, o "chefe supremo" botou a carapuça: “Se arriscaram numa aventura não recomendável”. Não! Não era, nem nunca foi uma aventura. Muito menos não recomendável. Estavam cumprindo suas missões. Culpar as vítimas sempre foi a saída preferida dos covardes. E para isso nem fingem um mínimo de preocupação. Não colaria mesmo. 

É sintomático que essa monstruosidade tenha vitimado justamente um jornalista, além do indigenista. Somos o alvo principal, e declarado, do atual governo. 

E justo o britânico Dom Phillips, correspondente do The Guardian no Brasil, autor da suprema ousadia de questionar o todo poderoso, em junho de 2019, sobre o crescimento dos desmatamentos na Amazônia e a falta de ações de preservação. Citou, inclusive, a parceria do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (o que queria passar a boiada), com madeireiros da região. Sem sequer olhar no rosto do entrevistador, sentado ao seu lado, nem disfarçar o ódio que espumava pela boca imunda, o incentivador de toda essa onda de violência que se instalou no país vomitou essa pérola: “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês”.

O choro coletivo, que continua entalado, vem se acumulando desde outro maldito golpe, o que permitiu essa múltipla tragédia brasileira. E foram inúmeros os atentados, sob forma de declarações desastrosas, tecendo a crônica das mortes anunciadas. Alguns exemplos:

“Se eu assumir a Presidência do Brasil, não terá mais um centímetro para terra indígena”, disse em 8 de fevereiro de 2018;

“Em 2019 vamos desmarcar a Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros”, na Câmara Federal, em 2016;

"As reservas indígenas sufocam o agronegócio”, em 2015;

“Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”, dia 3 de abril de 2017, no Estadão;

“Se eleito eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho”, promessa de campanha cumprida com “louvor” – reduziu pela metade a estrutura do órgão de apoio aos povos indígenas. O próprio Bruno Pereira já tinha sido vítima desse desmonte, quando perdeu o cargo de coordenador de povos isolados na Funai, vingança promovida na gestão do ex-ministro Sérgio Moro na Justiça.

 

Que essas mortes não sejam em vão

 

E para que as mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira não sejam em vão, o Brasil e o mundo precisam acordar e ir para as ruas, soltar o grito coletivo que está nos entalando. Exigir punição, exigir demarcação, respeito aos povos indígenas, aos territórios tradicionais, ao meio ambiente, à democracia. À dor que estamos sentindo. Difícil mensurar a aflição das famílias, amigos, colegas. Mais ainda a dos indígenas, que depositam ESPERANÇA na "aventura", ou "excursão", dos ativistas em defesa da Amazônia, 

Está cada vez mais difícil respirar nesse país, onde raposas foram colocadas para tomar conta de galinheiros. Um racista na Palmares, uma fundamentalista nos Direitos Humanos, um madeireiro na Funai, um latifundiário na Agricultura....

Não basta mais apenas chorar ou se revoltar com a confirmação das mortes. Que a repercussão internacional desse caso, por envolver um jornalista britânico, branco, representante de um dos mais importantes veículos de comunicação do mundo, não esmoreça. É o mínimo que podemos fazer, e exigir, para que Dom e Bruno não tenham perdido suas vidas em vão. Que, ao contrário, eles virem semente de um Brasil mais justo. Como a memória de Marielle Franco vem ajudando a semear a luta pela redemocratização do país.

#ForaBolsonaroGenocida

#domebrunopresentes

#MariellePresente

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É PRECISO COMPREENDER O PROCESSO HISTÓRICO PARA NELE INTERVIR 4 Jun 2022 5:46 AM (2 years ago)

 
Ex-ministro Roberto Amaral

Cobra-se do Partido dos Trabalhadores um projeto revolucionário que não está no horizonte de seu programa

(Ironia da História: são os “subversivos” que, hoje, defendem a democracia no país, contra as ameaças totalitárias dos partidos da ordem.) 

O pior desatino comete o pretenso revolucionário que supõe poder alterar a realidade ignorando os limites de seu papel como sujeito histórico.

A urgência histórica é a questão democrática, que se materializará na derrota do projeto continuísta do bolsonarismo.

O programa fascistóide tem raízes em ponderáveis segmentos da sociedade brasileira, sua existência guarda coerência com nossa formação de sociedade

Por Roberto Amaral - cientista político, ex-ministro da Ciência e Tecnologia em 2003/2004 - 28/maio/2022 (Reproduzido do site Brasil 247)

Ponderáveis setores da esquerda brasileira, novos e antigos companheiros das lutas democráticas, cobram de Luiz Inácio Lula da Silva o anúncio de um projeto socialista para o Brasil de hoje – embora a revolução, sempre desejada, não esteja  posta pelo processo histórico. Lamentavelmente. De Lula, um dos mais avançados quadros da centro-esquerda brasileira, como certificam seus oito anos de governo, o que havemos de esperar é a construção e liderança de uma nova maioria política, fiadora da continuidade democrática, fundamental para a luta dos trabalhadores no Estado burguês. Não é um fim, em si, mas processo sem o qual não retomaremos o projeto de uma sociedade sem classes.

 

(Ironia da História: são os “subversivos” que, hoje, defendem a democracia no país, contra as ameaças totalitárias dos partidos da ordem.)    

Cobra-se do Partido dos Trabalhadores – o maior e o mais sólido partido da socialdemocracia brasileira – um projeto revolucionário que não está no horizonte de seu programa. Sob o comando de Lula, o PT lidera uma coalizão partidária de centro-esquerda, ampla, que mais e mais procura afastar-se das teses encampadas na saudosa campanha eleitoral de 1989, porque de lá para cá o mundo mudou, o país mudou e mudou o próprio PT, tanto quanto mudaram as perspectivas da esquerda brasileira, com a crise do “socialismo real” e as seguidas “diásporas”; e consequentemente as condições de luta pioraram. O PT mudou para vencer as eleições em 2002, e volta a mudar, desta feita para poder liderar uma frente ainda mais ampla, em condições de derrotar o projeto protofascista governante, que nos ameaça com anunciadas expectativas de continuidade.

O pior desatino comete o pretenso revolucionário que supõe poder alterar a realidade ignorando os limites de seu papel como sujeito histórico.

 

Como lembrava há mais de um século conhecido pensador alemão, o homem faz sua história, mas não a faz segundo os caprichos de sua vontade, de seus sonhos e de sua utopia; ele a faz segundo as circunstâncias com as quais se defronta (Cf. Marx, Karl. O 18 brumário de Luis Bonaparte). Dois mil anos antes, Sun Tzu recomendava aos generais em guerra conhecer previamente o inimigo e o terreno em que pretendiam lutar.

Mudando a conjuntura, as formas de luta também mudam.

Independentemente do PT e de seu líder, nos defrontamos com o recesso das lutas sociais, implicando o remanso da denúncia da luta de classes. A conjuntura internacional vê-se pontuada pela fragilização das organizações revolucionárias, socialistas e trabalhistas, pari passu com o crescimento de apoio popular a movimentos de direita e extrema-direita (vide França, Itália, EUA, Hungria, Polônia), como o que se revelou contundente nas eleições brasileiras de 2018. Entre nós a extrema-direita empalmou o poder cavalgando eleições livres, pela primeira vez. Não se trata de um fenômeno menosprezável, mas de um indicador do nível de consciência das massas.  

Cresce o imperialismo como força política, econômica e militar, e esse crescimento pesa sobre o processo social. A agudização do militarismo é uma de suas evidências. É seu o monopólio da informação, de que resulta a unipolaridade ideológica, uma modalidade de ditadura nas sociedades de massas. Limitada em suas opções revolucionárias, a esquerda optou pelo ingresso na institucionalidade, que, lhe dando sobrevida, congelou sua capacidade de intervir na realidade, visando a modificá-la. Perdida a revolução, seu projeto passou a ser modificar por dentro as estruturas, tornando-se, assim, inevitavelmente, um fator da ordem. É uma nova socialdemocracia, substituta daquela que transitou para a direita, no mundo e no Brasil.

Combater qualquer alteração do status quo, qualquer ameaça de mudança de rumo, mesmo dentro da legalidade, qualquer sugestão de reforma social, passou a ser o projeto retrógrado da casa-grande brasileira, que não convive com alterações, quaisquer, da ordem baseada na superexploração da classe trabalhadora. Daí o combate que travou contra os governos Lula e Dilma, daí seu apoio ao quadro político consequente, daí suas ameaças ao processo eleitoral de 2022, à posse e ao futuro governo Lula, quando o candidato promete colocar o pobre no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda.  Essa resistência não conhece limite e explica o esforço do Lula candidato de construir, ainda no processo eleitoral, uma coalizão que lhe assegure, além da eleição e da posse, condições de governar, negadas a Jango e a Dilma Rousseff. 

Nesta quadra histórica, está reservado às classes populares, organizadas, garantir a continuidade democrática e uma governança que possibilite a retomada do desenvolvimento, a recuperação das conquistas sociais e a preeminência do interesse nacional. 

Para avançar, sempre a depender do que seremos e faremos no pós-2022, precisaremos alterar a atual correlação de forças, ampliando, para além de nosso campo, o arco político-social que garantirá a governabilidade a partir de 2023. Somente amparados em uma grande mobilização popular estaremos em condições de promover alterações significativas na estrutura do Estado brasileiro atual, sem as quais será impossível a um governo de raízes sociais descartar os entraves ao desenvolvimento nacional e remover a viciada, para além de nociva, ingerência da caserna atrasada sobre as instituições republicanas.

Tantos anos passados da Constituinte, retorna a discussão essencial sobre o caráter do Estado de que necessitamos para promover o progresso social, tantas vezes contestado pela casa-grande e seu braço armado.

A urgência histórica é a questão democrática, que se materializará na derrota do projeto continuísta do bolsonarismo. É, ao mesmo tempo, a tarefa mais consequente ao nosso alcance, e aquela que mais amplia na sociedade, daí o caleidoscópio de alianças que o ex-presidente intenta costurar com paciência de cesteiro. Porque é necessário ganhar e é necessário ter forças para poder governar e, principalmente, governar sabendo que contará com a resistência da casa-grande.

Nada obstante essas considerações, que aos quadros mais experientes podem tangenciar o óbvio, é preciso ter sempre em conta que a ainda difícil (tanto quanto necessária) eleição de Lula e o retorno do PT ao governo – ainda longe da hegemonia do poder – significarão um grande avanço político (ao qual se associa a esquerda socialista), por representar o avanço possível nas condições concretas. Este avanço possível das esquerdas está abraçado ao sucesso que promete a candidatura Lula. 

As limitações óbvias de uma candidatura que, para viabilizar-se, carece de amplas alianças, mesmo ultrapassando as fronteiras de seu arco ideológico, não podem, porém, ser arguidas como inibidoras da ação e do proselitismo das esquerdas, a quem incumbe, na campanha eleitoral, a defesa das teses de nosso campo. Em síntese, compete à esquerda fazer a campanha da esquerda, jamais delegá-la a uma frente ampla cujo núcleo é a socialdemocracia.  Toda campanha eleitoral é uma oportunidade de proselitismo. No caso concreto, os socialistas terão de associar a pedagogia ideológica à ação, o encontro ideal de teoria e prática, retornando à organização popular. Organização em todo e qualquer nível, para a ação e o proselitismo e, para, amanhã, responder aos desafios que lhe serão forçosamente impostos pelo processo social.

A deposição de Dilma e o que a partir dessa violência se seguiu não podem ser entendidos como frutos do acaso, nem muito menos pensados como “chuvas de verão”. O programa fascistóide tem raízes em ponderáveis segmentos da sociedade brasileira, sua existência guarda coerência com nossa formação de sociedade (em busca da nação) e país escravocrata, racista e autoritário, governado por uma elite alienada e forânea, descomprometida com os destinos do país e de sua gente. É preciso compreender o caráter do processo histórico para nele poder intervir consequentemente.

*Com a colaboração de Pedro Amaral


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PROFESSORES DE SEABRA: UMA GREVE LONGA E VITORIOSA 25 May 2022 10:26 AM (2 years ago)

A categoria se manteve mobilizada (Fotos: Smitson Oliveira) 

Tânia Oliveira, dirigente da APLB-Sindicato

Depois de uma greve de mais de 50 dias, os professores da rede municipal de Seabra, na Chapada Diamantina, chegaram a um acordo considerado satisfatório, retomando as aulas a partir da terça-feira, dia 24: conseguiram a maioria das reivindicações, incluindo o reajuste de 33,24% do piso salarial, que é garantido em lei federal e faz parte da luta da categoria em todo o estado, pois tal direito vem sendo atropelado pelas prefeituras.

 

(Em Salvador, por exemplo, os professores das escolas municipais estão em greve, iniciada na última quinta-feira, dia 19, exigindo o mesmo reajuste).

 

Apesar da volta às aulas, o professorado seabrense continua mobilizado para serem efetivamente atendidos os itens acordados, constantes em ata registrada no Ministério Público. E também para acompanhar – buscando transparência – a aplicação das verbas para a educação.

 

Isto em meio à extrema má vontade do prefeito Fábio Miranda, que, passando ao largo da institucionalidade, negou-se a se sentar à mesa de negociação com os legítimos representantes da APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, existente há 70 anos como referência em luta de classe.

 

O seu secretário da Educação, Altair Sá Teles, no entanto, negociou com a comissão dos grevistas. E o documento do acordo foi apresentado no Ministério Público local, no intuito de referendar o cumprimento dos prazos acordados.

 

Este é um pequeno resumo feito a partir da avaliação e relato da  dirigente da APLB, Tânia (Maristônia) Oliveira, presidente da Delegacia Sindical Lavras da Diamantina da APLB/Sindicato (abrange Seabra e mais quatro municípios da Chapada Diamantina).

 

Segundo ela, foram dias de muita movimentação, com manifestações de rua, assembleias, inclusive nas praças, “ocupações da prefeitura” (ocupação do pátio da Secretaria da Educação durante o expediente), panfletagens, carreatas, gravação e divulgação de vídeos e muita atuação nas redes sociais. Além de reuniões/encontros no sindicato, Câmara de Vereadores e Ministério Público.

 

O movimento contou (e ainda conta) com o apoio de mães e pais (principalmente as mães) dos alunos, cuja participação foi talvez um dos toques mais notáveis da mobilização e articulações.

 

Com o fim da greve, os professores têm agora também o compromisso com a reposição das aulas para os cerca de 8.000 alunos e alunas da rede de educação infantil e ensino fundamental, níveis da competência da gestão municipal. São aproximadamente 50 escolas em todo o município.


Mais fotos do movimento:












 

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DEZ TESES PARA REINVENTAR AS ESQUERDAS 9 Apr 2022 6:44 AM (3 years ago)

 
Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (Foto:Internet)

"As esquerdas partidárias deixaram de viver onde vivem os seus eleitores, deixaram de conviver e de conversar com eles, exceto quando os visitam para lhes pedir o voto. Quem hoje convive e conversa com os grupos sociais mais excluídos são muitas vezes as igrejas evangélicas neopentecostais quando não é o crime organizado”, diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

Por Boaventura de Sousa Santos - sociólogo português

10 de fevereiro de 2022, 11:02 h Atualizado em 10 de fevereiro de 2022, 11:13

Reproduzido a partir do site Brasil 247

As eleições gerais do passado dia 30 de janeiro em Portugal tiveram resultados surpreendentes. O Partido Socialista (PS) ganhou as eleições com maioria absoluta. Portugal será, a partir de agora, o único país europeu com um governo de maioria absoluta de um só partido de esquerda. Os dois partidos à esquerda do PS tiveram os piores resultados de sempre. O Partido Comunista (PCP), que tinha doze deputados no parlamento, passa a ter metade; e o Bloco de Esquerda (BE), que tinha 19 deputados, passa a ter cinco. O BE passa de terceira força política para quinta e o PCP, de quarta para sexta. As posições destes partidos passaram a ser ocupadas por forças de ultradireita, uma de inspiração fascista (Chega), agora terceira força política, da família da extrema-direita europeia e mundial; e outra de recorte hiper-neoliberal, darwinismo social puro e duro, ou seja, a sobrevivência do mais forte (Iniciativa Liberal), agora quarta força política. Os resultados eleitorais mostram que a esquerda à esquerda do PS perdeu a oportunidade histórica que granjeou depois de 2015 ao construir uma solução de governo de esquerda que ficou conhecida por geringonça (PS, BE, PCP), uma solução que travou a austeridade imposta pela solução neoliberal da crise financeira de 2008 e lançou o país numa recuperação econômica e social modesta mas consistente. Esta solução começou a precarizar-se em 2020 e colapsou em finais de 2021 com a rejeição do orçamento apresentado pelo governo. Foi isso que levou às eleições antecipadas de 30 de janeiro. A vitória esmagadora do PS depois de seis anos de governação e dois anos de pandemia é memorável e merece reflexão. Neste texto, proponho-me refletir sobre o outro fato importante destas eleições: a queda abrupta dos dois partidos de esquerda à esquerda do PS. Não pretendo aqui analisar a queda em si mesma; pretendo antes mostrar o abismo que nela se manifesta entre a esquerda que o BE e o PCP representam e a esquerda que, em meu entender, tem condições para prosperar nas próximas décadas. A diferença entre o que existe e o que proponho é tal que estamos perante a necessidade de reinventar as esquerdas.  Por agora não me refiro ao conteúdo programático. Refiro-me sobretudo às formas de organização. Apresento a minha proposta em dez teses. 

1. Não há cidadãos despolitizados; há cidadãos inseguros que não se sentem mobilizados pelas formas dominantes de politização, sejam elas partidos ou movimentos da sociedade civil organizada.

Parte inferior do formulário

A esmagadora maioria dos cidadãos não está filiada em partidos, não participa em movimentos sociais nem sai à rua para se manifestar, mas uma boa parte dela sente-se excluída, abandonada e sem esperança que a democracia realize as suas expectativas. A pandemia veio agravar a insegurança existencial. As forças de extrema-direita foram as primeiras a identificar aí a sua oportunidade para prosperarem. São exímios empreendedores do medo e da raiva. 

Depois de séculos de colonialismo (racismo, xenofobia, roubo de terra e de recursos naturais) e de hétero-patriarcado (sexismo, violência de gênero, feminicídio, homofobia, transfobia) e de mais de quarenta anos de  capitalismo neoliberal (concentração escandalosa da riqueza, sobreexploração do trabalho, erosão dos direitos sociais e econômicos e destruição  da natureza), as revoltas ou explosões sociais, quando ocorrem, tendem a  colher de surpresa os partidos e as organizações da sociedade civil  (associações e movimentos sociais). São muitas vezes movimentos espontâneos, presenças coletivas nas praças públicas.  

2. Não há democracia sem partidos, mas há partidos sem democracia.

Uma das antinomias da democracia liberal representativa reside em ela assentar cada vez mais nos partidos como forma exclusiva de agência política, ao mesmo tempo que os partidos são internamente cada vez menos democráticos. Os partidos vivem e reproduzem-se no interior de instituições que tendem a isolar-se da turbulência e da complexidade das dinâmicas sociais. O déficit democrático dos partidos traduz-se na incapacidade para  captar atempadamente e interpretar corretamente os anseios, as  inseguranças, as aspirações de cidadãos e cidadãs cada vez mais  armadilhados na ideologia dominante da autonomia e da liberdade, sem  terem condições materiais para serem efetivamente autônomos ou se  sentirem efetivamente livres. Sem ninguém os escravizar, sentem-se condenados a auto-escravizar-se. Enquanto empreendedores, colaboradores, trabalhadores autônomos, sentem-se na situação paradoxal de terem direito  a não ter direitos. Esta dissonância é particularmente acentuada entre os jovens e as classes sociais socialmente empobrecidas e vulneráveis, aquelas para cuja defesa se criaram os partidos de esquerda. Por exemplo, as ideologias dominantes nos partidos de esquerda tendem a ver nos jovens apenas trabalhadores precários. Eles são isso, mas são muito mais do que isso, são cidadãos e cidadãs preocupados com a sua sexualidade, com o racismo, com as dificuldades de relacionamento num mundo pandêmico e de comunicação virtual, com a perda de amizades intensas, com a exigência de altas qualificações acadêmicas destinadas ao desemprego ou ao emprego lixo, com o medo que a crise ecológica lhes roube mais facilmente o futuro que o capitalismo. A distância entre todas estas vivências e carências e os códigos de formulação e de gestão política dos partidos é cada vez mais preocupante. 

3. Os partidos do futuro serão partidos-movimento.

Se é verdade que os partidos tradicionais esgotaram o seu tempo histórico, isso é particularmente verdade no caso dos partidos de esquerda. A solução reside em transformar os partidos em entidades mais intensamente democráticas. Os partidos do futuro têm de combinar a democracia representativa com a democracia participativa no modo como se organizam, como definem os seus programas, como escolhem os seus líderes, como tomam decisões políticas importantes, como prestam contas e afirmam a transparência. A participação cidadã nos partidos não se pode esgotar no exercício do direito de voto de quatro em quatro anos. Deve exercer-se no decurso do mandato dos eleitos, e não apenas quando o mandato termina.  Esta participação não se pode reduzir a receber informações regulares.  Devem plasmar-se na constituição de círculos de cidadania militante e simpatizante, organizados por local de residência ou por tipo de ocupação, com capacidade deliberativa e não apenas consultiva. Esta vigilância e co-criação política é particularmente decisiva no caso dos partidos de esquerda por duas razões principais. As classes e os grupos sociais que as esquerdas se propõem representar e cujos interesses dizem defender vivem em condições sociais e universos culturais diferentes dos das lideranças políticas e têm menos tempo e menos proximidade social para se manifestarem ou para se fazerem entender. A política de proximidade é a chave da política do futuro. Essa proximidade não pode ser mero artefato virtual da sociedade de informação porque os corpos vivos têm densidades e emoções que fogem à lógica binária da comunicação virtual. Além do mais, a comunicação virtual não entende os silêncios e as ausências, embora uns e outras sejam fundamentais para entender o sofrimento dos que mais sofrem e as injustiças a que estão sujeitos os mais injustiçados.  

A segunda razão prende-se com a tradição do marxismo-leninismo que por vezes ao centralismo democrático nos partidos vindos da tradição comunista. Esta tradição teve o seu mérito no seu tempo, mas está hoje ultrapassada pelas condições de vida e comunicação contemporâneas.  Mantê-la nos dias de hoje, ainda que de forma matizada, significa por vezes cair na tentação do espírito de seita (sectarismo), na busca de unanimidades através do policiamento antidemocrático de opiniões divergentes para que não vinguem e, finalmente, na oscilação brusca entre unanimidade e silenciamento, suspensão de direitos, demonização na praça pública. Este tipo de gestão das diferenças é cada vez mais incompatível com a visão que os cidadãos têm da convivência e da deliberação democráticas. 

4. Os partidos-movimento de esquerda não precisam de ser inventados a partir do zero; devem conhecer e valorizar as suas origens.

As esquerdas nasceram na convivência com as classes e grupos sociais excluídos. Ajudaram a minorar a exclusão e o silenciamento, não apenas dando voz às suas reivindicações, mas também promovendo a sua autoestima, através da educação e da cultura populares, dos grupos teatrais, das atividades de convívio e de lazer. As esquerdas têm de voltar às suas origens, ao convívio de proximidade com os grupos sociais excluídos, discriminados, empobrecidos. Paradoxalmente, estes grupos são os que sofrem mais com a ideologia dominante e os que mais facilmente se sentem seduzidos por ela, expostos como estão à indústria do entretenimento massivo e às redes sociais reconfortantes. As esquerdas partidárias deixaram de viver onde vivem os seus eleitores, deixaram de conviver e de conversar com eles, exceto quando os visitam para lhes pedir o voto. Quem hoje convive e conversa com os grupos sociais mais excluídos são muitas vezes as igrejas evangélicas neopentecostais quando não é o crime organizado. O ativismo militante de esquerda parece limitar-se a participar em reuniões do partido para fazer (quase sempre ouvir quem faz) uma análise da conjuntura. Os partidos de esquerda, tal como existem hoje, não são capazes de falar com as vozes silenciadas e excluídas em termos que estas entendam. Para mudar isso, as esquerdas devem reinventar-se. 

5. Não há democracia, há democratização.

A responsabilidade das esquerdas reside em que elas servem hoje à democracia mais genuinamente que quaisquer outras. A democracia liberal representativa sempre teve o medo das maiorias sociais. Basta lembrar que a democracia representativa esteve na sua origem limitada aos proprietários, uma pequena minoria de cidadãos. Mas nos últimos sessenta anos passou por períodos em que, com maior verossimilhança, foi o regime dos governos das maiorias para benefícios das maiorias. Hoje em dia, a democracia liberal está cada vez mais capturada por poderosos interesses econômicos. À medida que isso ocorre e é mais conhecido, vai germinando a ideia de que a democracia está a ser desfigurada e é hoje muitas vezes um regime de governos de minorias para benefício das minorias. Em muitos países, as forças políticas de direita dependem cada vez mais de interesses econômicos poderosos. Para poder servi-los, não podem servir à democracia; apenas se servem dela. As forças políticas de esquerda estão, por esta razão, em melhor posição para servir à democracia e defendê-la dos antidemocratas. Mas, para isso, têm de romper com a lógica de organização interna típica dos partidos de direita. 

As esquerdas são as mais bem posicionadas para entender que a democracia não se pode limitar ao espaço-tempo da cidadania. As sociedades politicamente democráticas são frequentemente sociedades em que as maiorias não têm condições de viver democraticamente por estarem expostas a quotidianos de autoritarismo que tenho designado como fascismo social. A luta democrática tem de existir também no espaço da família, da comunidade, da produção, das relações sociais, das relações com a natureza e das relações internacionais. Cada espaço-tempo convoca um tipo específico de democracia. Nisto consiste a democracia de alta intensidade.  Comparada com ela, a democracia liberal representativa é uma democracia de baixa intensidade.  

6. Os partidos-movimento devem lutar contra o fundamentalismo da exclusividade da representação.

Os partidos convencionais sofrem de um fundamentalismo anti-sociedade civil organizada (associações e movimentos sociais). Consideram que têm o monopólio da representação política e que esse monopólio é legítimo, precisamente porque as organizações sociais não são quantitativamente representativas. Por isso, os únicos meios de se articular com elas são a cooptação ou a infiltração. É assim que os partidos só reconhecem “os seus movimentos”, as “suas associações”, sejam elas sindicatos ou ordens profissionais. Este fundamentalismo da exclusividade da representação e o que dele decorre levam a deslegitimar as organizações da sociedade civil, a sujeitá-las a lógicas partidárias com prejuízo para os interesses reais dos seus associados.  

A luta contra o fundamentalismo tem ainda uma outra dimensão. Os partidos privilegiam a ação institucional, a mobilização das instituições, tais como, o parlamento, os tribunais e a administração pública. Pelo contrário, as organizações da sociedade civil e sobretudo os movimentos sociais, embora utilizem também a ação institucional, recorrem muitas vezes à ação direta, aos protestos e manifestações nas ruas e nas praças, aos sit-ins, à divulgação de agendas por via da arte (o artivismo). O fundamentalismo da exclusividade da representação tende a desvalorizar estas importantes formas de mobilização social e a fomentar a tentação de as instrumentalizar. Os partidos tendem a homogeneizar as suas bases sociais (é-se socialista, comunista, conservador, democrata cristão). Pelo contrário, as organizações e movimentos sociais concentram-se em lealdades temáticas mais específicas: a habitação, a imigração, a violência policial, o racismo e o sexismo, a diversidade cultural, a diferença sexual, a ecologia, o território, o regionalismo, a economia popular, etc. Trabalham com linguagens e conceitos distintos dos que são usados pelos partidos. Essa diversidade enriquece a convivência democrática.

As organizações e movimentos sociais sabem que as formas de opressão tanto vêm do Estado como das relações sociais (às vezes familiares) e econômicas. Os sindicatos, por exemplo, têm uma experiência notável de luta contra atores privados: os patrões e as empresas. É por esta razão que o neoliberalismo lhes tem feito um ataque cerrado. A sociedade civil organizada em associações, movimentos sociais e sindicatos está hoje marcada por uma experiência muito negativa: os partidos de esquerda descumprem frequentemente as suas promessas eleitorais quando chegam ao poder. Esse descumprimento leva a prazo à deslegitimação dos partidos. Se a legitimação democrática não for recuperada pelos partidos-movimento democráticos, os partidos antidemocráticos e de vocação fascizante encontram aí um terreno fértil para prosperarem. Apresentam-se, em geral, como o antissistema, a nova/velha extrema-direita. 

7. A revolução da informação eletrônica e as redes sociais não constituem, em si, um instrumento incondicionalmente favorável ao desenvolvimento da democracia participativa. 

Pelo contrário, podem contribuir para manipular a tal ponto a opinião pública que o processo democrático pode ser fatalmente desfigurado (o mundo das fake news e do discurso do ódio). O exercício da democracia participativa necessita hoje, mais do que nunca, de reuniões presenciais e discussões face a face. A tradição das células partidárias, dos círculos de cidadãos, dos círculos de cultura, das comunidades eclesiais de base tem de ser reinventada. Não há democracia participativa sem interação de proximidade. A pandemia tornou mais difícil a política de proximidade, mas ela deve ser retomada logo que possível. 

8. Os partidos-movimento de esquerda estão abertos a juntar forças com outros partidos de esquerda com base no princípio das pluralidades despolarizadas e das teorias da transição.

Tradicionalmente, as forças políticas de esquerda foram vítimas de faccionismo e de oportunismo. Em ambos os casos, esses desvios deveram-se à distância que criaram com as suas bases sociais. No caso das forças de tradição comunista e anarquista, o faccionismo foi o desvio mais frequente, decorrente quase sempre da ansiedade identitária e do purismo ideológico.  Fracionaram-se com frequência e transformaram os companheiros de ontem nos inimigos de hoje. No caso das forças de tradição socialista, o desvio mais frequente foi o do oportunismo, o ecletismo ideológico que tornou mais fácil coligar-se com forças de direita do que com outras forças de esquerda. Tanto o faccionismo como o oportunismo contribuem para desarmar as forças de esquerda e frustrar as suas bases sociais. Isto é particularmente preocupante num contexto de época de crescimento de forças de extrema-direita, apostadas em usar a democracia para chegar ao poder, mas prontas para a descartar à medida que isso for possível. 

Contra esta dupla tradição devem contrapor-se dois princípios. O primeiro é o princípio das pluralidades despolarizadas. Consiste em distinguir entre o que separa e o que une as organizações políticas e promover as articulações entre estas com base no que as une, sem perder a identidade do que as separa. O que as separa apenas fica em suspenso por razões pragmáticas. As diferenças só se despolarizam quando as concessões são recíprocas, quando os processos e resultados da negociação são transparentes e as bases sociais das organizações participantes os consideram benéficos depois de devida e adequadamente consultadas. Esta é a primeira chave para acordos entre os partidos de esquerda. 

A segunda chave consiste na consideração dos tempos e dos ritmos das políticas defendidas. O socialismo não pode ficar na gaveta para sempre, mas também não pode atingir-se amanhã. Há que pensar em períodos de transição, nos quais as reformas devem ser medidas pela capacidade de consolidar avanços sem abrir as portas para retrocessos abruptos. O neoliberalismo tornou tão evidente e grave a transferência de riqueza dos pobres e das classes médias para os ricos e para as velhas e novas elites que as forças de direita tradicionais vivem hoje mais das oportunidades que as esquerdas lhes dão pelos erros que cometem do que por mérito próprio.  

9. A cultura e a educação populares são uma das chaves para sustentar a democracia e travar o avanço dos autoritarismos.

Os meios de luta mais eficazes contra o velho/novo fascismo, o autoritarismo e o obscurantismo são a cultura e a educação. A cultura é a prática da diversidade e da imaginação democráticas por excelência. A educação é essencial para promover a difusão da convivência democrática e do interconhecimento entre diferenças políticas, sociais e culturais. As novas formas de educação política popular incluem rodas de conversa, círculos de cidadania, universidades populares, teatro do oprimido, poesia slam, cultura hip-hop, com vista a criar ecologias de saberes que potenciem a participação política em que se deve plasmar a democracia participativa do futuro: orçamentos participativos, consultas populares, conselhos sociais ou de gestão de políticas públicas, sobretudo nas áreas da saúde e da educação.

A história do país, de tudo o que há nela de luminoso e de tenebroso, é uma dimensão essencial da cultura e da educação. O passado foi um passado de lutas onde houve vencedores e houve vencidos. Por razões óbvias, as classes dominantes preferem a história dos vencedores contada pelos vencedores (seus antecessores). As forças políticas de esquerda devem, ao contrário, promover a divulgação da história dos vencidos contada pelos vencidos (os antecessores dos grupos sociais que se propõem defender).  Histórias plurais são as mais eficazes para lutar contra a falsa contingência do presente e o carácter instantâneo e sem raízes da contemporaneidade monolítica. Uma sociedade que não conhece o seu passado está condenada a ter só o futuro dos outros. 

10. Vivemos um período de lutas defensivas

A ideologia de que não há alternativa ao capitalismo – o qual é, de fato, uma tríade: capitalismo, colonialismo (racismo) e hétero-patriarcado (sexismo) – acabou por ser interiorizada por muito do pensamento de esquerda. O neoliberalismo conseguiu combinar o fim supostamente tranquilo da história com a ideia da crise permanente (por exemplo, a crise financeira, a crise ecológica e, mais recentemente, a crise sanitária). Por esta razão, vivemos hoje sob o domínio do curto prazo. É preciso atender às suas exigências porque quem está com fome ou é vítima de violência policial ou de gênero não pode esperar pelo socialismo para comer ou ser libertado.

Mas não se pode perder de vista o debate civilizatório que põe a questão das lutas de médio prazo. A pandemia, ao mesmo tempo que tornou o curto prazo em urgência máxima, criou a oportunidade para pensar que há alternativas de vida e que, se não queremos entrar num período de pandemia intermitente, temos de atender aos avisos que a natureza nos está a dar. Se não alterarmos os nossos modos de produzir, de consumir e de viver, caminharemos para um inferno pandêmico. 

Num momento em que os fascistas estão cada vez mais perto do poder, quando não estão já no poder, uma das lutas mais importantes é a luta pela democracia. A democracia liberal representativa é de baixa intensidade, porque aceita ser uma ilha relativamente democrática num arquipélago de despotismos sociais, econômicos e culturais. Por isso, não se sabe defender eficazmente das forças antidemocráticas. A democracia liberal representativa é um essencial ponto de partida, mas não pode ser o ponto de chegada. O ponto de chegada é uma profunda articulação entre a democracia liberal, representativa, e a democracia participativa, deliberativa. Neste momento de lutas defensivas, é particularmente importante defender a democracia liberal, representativa, para neutralizar os fascistas e para, a partir dela, radicalizar a democratização da sociedade e da política. As forças políticas de esquerda devem ter isto particularmente presente porque sabem que serão elas os primeiros alvos e as primeiras vítimas da violência fascista. 

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“NOM OMNE QUOD LICET HONESTUM EST” (Nem tudo que é legal é honesto) 25 Jul 2020 12:10 PM (4 years ago)

Valdimiro Lustosa: "Pensemos melhor e tenhamos ação" (Foto: Facebook)

“As instituições políticas, religiosas e educativas contribuem para gerar a ideologia que confunde o interesse da classe capitalista dominante com o interesse geral”.

Por Valdimiro Lustosa – ex-dirigente sindical bancário, bacharel em Direito

Em determinados momentos da conjuntura de um país, as instituições perdem totalmente a sua importância. Elas passam a existir somente para referendar o que os donos do poder querem. Vejamos a situação do Brasil: para que serve mesmo o legislativo? Para fazer leis, dirão os deputados e senadores. Mas, que leis? A formação da lei já vem com defeito de origem. É a elite que faz a lei. Escreve-a a seu gosto, voltada para seus principais interesses.

Para tanto, banca a eleição dos seus deputados e senadores. Por isso é que se ouve falar da bancada ruralista ou bancada do boi, da bancada evangélica ou bancada da bíblia, da bancada da bala etc. Da mesma forma, pergunta-se: para que serve o judiciário? Para julgar à luz das leis elaboradas por um legislativo corrupto e representante da elite. Ora, na realidade o judiciário serve mesmo é para referendar os interesses da burguesia. Assim também se pode dizer do mesmo papel que exercem a Polícia Federal e o Ministério Público. Todos atendem aos interesses dos homens do dinheiro.

Quando o cidadão comum procura a justiça, ela não atende ou leva anos a fio para dizer, invariavelmente, NÃO ao pleito do suplicante. Claro que existem exceções. Há juiz e juiz ou como diz a frase: ainda há juízes em Berlim, frase atribuída ao moleiro que havia herdado do seu pai o moinho de vento intitulado moinho de Sans-Souci (episódio ocorrido na Prússia no Século XVIII, quando o Rei Frederico II tentou remover o moleiro das suas terras para ampliar o palácio).
   
O segmento da justiça que ainda atendia um pouco melhor os anseios do hipossuficiente era a Justiça do Trabalho, logo ajustada aos interesses do patronato (vide reforma trabalhista).  É só olharmos a redução de processos demandados nos TRTs Brasil afora. Por conta disso, centenas de escritórios de advocacia trabalhista encerraram suas atividades. Quantos ficaram desempregados! E o povo o que diz de tudo isto? Nada, absolutamente nada. Por quê? No meu entendimento, vários fatores contribuem para tanto. Primeiro, a mídia alimenta o discurso do governo ao apoiar os seus projetos, a exemplo das reformas trabalhista e previdenciária, porque os jornais e TVs são pagos para isto; por outro lado, o governo usa as igrejas concedendo-lhes benefícios (isenções fiscais) para que elas defendam  a política do governo.

Assim, elas avocam o nome de Deus para amortecer uma possível revolta das pessoas.  E os fiéis podem até passar fome, mas não deixam de pagar o dízimo porque são iludidos pelos pregadores do evangelho que prometem o reino do céu. Uma pregação que já faz mais de 2.000 anos e ninguém conhece ninguém que tenha alcançado o reino do céu e que viesse aqui na Terra dizer como é o reino do céu aqui prometido.

A burguesia se delicia com tudo isso. Aliás, ela nunca vem de cara limpa falar diretamente com o povão. A História demonstra que a classe poderosa nunca se apresenta de cara descoberta tal como é. Cobre-se com as bandeiras da religião ou do patriotismo. Acontece que, apenas reconhece e proclama como bom para todos, aquilo que é bom para ela. Por detrás do Estado existe toda uma malha doutrinal, de valores, mitos, instituições e outras tantas formas de iludir.

As instituições políticas, religiosas e educativas contribuem para gerar a ideologia que confunde o interesse da classe capitalista dominante com o interesse geral, justificando as relações de classe existentes como as únicas naturais e, portanto, perpétuas e inalteráveis. Todas essas instituições se conjugam na criação de uma consciência uniforme, para conferir unidade ao pensamento burguês.

Para preservar o sistema que os favorece, os ricos e poderosos investem muito na persuasão. É nesse contexto geral que intervêm nos meios de comunicação de massa e na capacidade dos pregadores do evangelho que têm um poder de persuasão muito eficiente. O governo, que é representante da burguesia, faz “dobradinha” com as igrejas e até usa o espaço físico religioso como comitê de um futuro partido político. Enquanto isso, a promessa do reino do céu continua nas pregações das igrejas. Até quando não se sabe. O reino do céu fica parecendo as tabuletas dos armazéns e bares do interior do nosso país: FIADO SÓ AMANHÃ! Haja paciência!

Baudelaire em um dos seus textos, assim se expressou:

É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

O poeta tinha razão. Como enfrentar tamanha perversidade? Acho que temos que nos embriagar mesmo de virtude, de coragem e fazermos como fez o povo do Chile que já nos apontou o caminho. Pensemos melhor e tenhamos ação. O que  estamos  vendo no Brasil é algo assustador. Não sabemos quando isto terá fim. Alea jacta est!

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“AUTORITARISMO FURTIVO” (OU “DEMOCRACIA HÍBRIDA”) 21 Jul 2020 12:39 PM (4 years ago)

André Singer, cientista político (Foto: da Internet)

“É muito difícil para a sociedade perceber o que está acontecendo, porque aparentemente as instituições estão funcionando, existe uma fachada legal...”

(Meus amigos me sacaneiam porque não uso Whatsapp e ainda uso e-mail. Mas o que eu quero mesmo é voltar a usar cartas).

Por Jadson Oliveira – jornalista/blogueiro – editor deste Blog Evidentemente

Caro companheiro Lustosa (Valdimiro Lustosa, também chamado Guri),

Há dias tento escrever alguma coisa sobre ‘A tão falada democracia... uma falácia”, espicaçado por seu artigo (‘reflexões’) aqui publicado no último dia 24/junho.

(É pena que este meu Blog Evidentemente é pouco visitado. Seu artigo teve apenas 91 acessos até hoje. Merecia mais).

Mas esse Corona, com o flagelo do confinamento mal feito e o genocídio anunciado, tem me deixado de saco cheio e me tirado a parca inspiração.

A verdade é que sempre tive pouca consideração pela tal da democracia. Um substantivo difícil de digerir. Me falta sempre um adjetivo para temperá-la.

Nos velhos tempos de militante comunista, era mais fácil. A gente tascava logo a “democracia burguesa” e estava consumada a condenação perpétua à dita cuja. Navegávamos em ilusões, utopias, escudando-nos nas certezas com as quais a juventude nos brindava. Éramos militantes, otimistas, mais alegres e mais felizes.

Agora, em se falando de Brasil, já entrando no declinar do lavajatismo – arrastando para a lama da história o bolsonarismo, seu filho dileto -, continuamos a nos debater em busca dum adjetivo.

Às vezes, também, dum substantivo: é o caso da mídia hegemônica (monopólios tradicionais dos meios de comunicação, Globo & Cia). Para eles, os monopólios, é mais simples: se os governantes são contra o império estadunidense, trata-se duma ditadura. Estão aí Venezuela, Cuba, Irã, China, Coreia do Norte;

Se são alinhados com o império, trata-se duma democracia: Brasil, Israel, Colômbia, Arábia Saudita, pra não falar no próprio Estados Unidos, “a maior (ou melhor?) democracia do mundo”.

RESSURGE A DEMOCRACIA: manchete de O Globo anunciando a vitória do golpe de 1964

Há ainda fascismo, viés fascista, autoritarismo, neoliberalismo, liberal fascista. Uns tresloucados por aí (extrema-direita, terraplanistas?) ainda falam, atualmente, no Brasil, da existência de comunismo no Estado brasileiro (certamente implantado ou incrementado pelo petismo). Santa ignorância! nesses tempos de notícias mentirosas aos milhões, instantâneas (fake news).

E mais: a conexão com o capitalismo. Você mesmo, companheiro,  no seu artigo referido acima, destaca “os escandalosos lucros dos bancos brasileiros ou dos estrangeiros que operam no Brasil”, ao falar da nossa cruel realidade marcada pela desigualdade.

Destaca ainda no seu segundo artigo aqui postado no último dia 13 – ‘A ironia da Folha de S.Paulo’ -, ao se referir à Revolução Francesa. Você lembra que o “Terceiro Estado (a plebe), que era a maioria, sustentava os outros dois” (o primeiro e o segundo – o clero católico e a nobreza, respectivamente). “Assim é o capitalismo”, arremata.

Tal conexão está também em comentários de companheiros nossos/leitores do blog: Osvaldo Laranjeira: “Como alguém disse: "precisamos desmistificar um caminhão de ilusões da democracia capitalista". Creio que o problema está no adjetivo "capitalista". Pois enquanto o capitalismo vigorar jamais teremos uma democracia participativa e que mereça a velha formulação: do povo, pelo povo e para o povo. Também nunca veremos o tal Estado democrático de direito”.

Irenio Viana: “A democracia, verdadeiramente, é uma falácia mesmo, é a moneycracia”; Rubia Oliveira: “Democracia SÓ para os ricos. Pobre só tem O VOTO, mesmo assim, ERROU feio”; e Téo Chaves observa que “a democracia está submissa às armas, à ignorância, à desigualdade...”

Isso bate com uma reflexão que sempre me ocorre: não seria mais justo, mais esclarecedor, se ressaltar a vigência do sistema capitalista, ao invés do desgastado sistema democrático? Lembremos da memorável manchete do jornal O Globo, logo após o golpe militar de 31 de março de 1964: RESSURGE A DEMOCRACIA (foi dia 1º de abril ou 2 de abril?).

Mas, porém, todavia, companheiro Lustosa, volto aos adjetivos. (Não esquecer que, oficialmente, vivemos na chamada “democracia representativa”, doente terminal há décadas. Característica central: os eleitores votam e escolhem seus representantes de quatro em quatro anos. E adeus: na próxima eleição, nos vemos novamente).

Confesso ter uma simpatia especial pela chamada “democracia participativa” (ou “direta” – alô, companheiro Laranjeira). Conheci-a, um pouco, nas duas temporadas que passei em Caracas, 2008 (três meses) e 2012 (cinco meses): eleição todos os anos, dispositivo constitucional revogatório de mandato presidencial, povo nas ruas permanentemente, milícias populares, comunas populares, mídia contra-hegemônica a todo vapor contra os monopólios privados de comunicação.

Autoritarismo incremental, aplicado por dentro das leis e conduzido por líderes democraticamente eleitos

Centrando na conjuntura atual brasileira: golpe contra Dilma, governos Temer/Bolsonaro e, principal, descalabro  resultante do genocídio sanitário e da crise econômica e política. Com o agravante: incapacidade da esquerda (ou centro-esquerda) – baleada pela campanha do suposto combate à corrupção - de interagir com as massas populares.

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos cunhou uma conceituação que, pelo que entendi, é bem esclarecedora para nossos dias: “democracia híbrida”. É uma meia democracia e meia ditadura. Com as características da alternativa abaixo, acho que dá pra entender (queria deixar um link aqui, mas não consegui localizar pelo Google. Vale a pena ler).

Outra, que achei espetacular, é dum grupo de estudiosos brasileiros, conforme um deles, o cientista político André Singer. Chama-se “autoritarismo furtivo”. Segue o resumo do próprio Singer (baseado em postagem do site Brasil247):

1 – “O autoritarismo furtivo é incremental, ele vai se dando continuamente, pouco a pouco. Todos os dias o Poder Executivo vai tentando alargar seus poderes e suprimir os contrapoderes. Vai tentando se sobrepor até o momento em que você imperceptivelmente cai em uma ditadura.

2 - A segunda característica é que ele justamente se dá por dentro das leis, não rompendo com as leis. Um exemplo bem fácil para nós aqui no Brasil é o impeachment da ex-presidente Dilma, porque eles usaram uma brecha que existia dentro das leis. O que esse processo gerou foi uma ruptura de democracia por dentro das leis.

3 - A terceira característica é que esse processo de autoritarismo furtivo é conduzido por líderes democraticamente eleitos, então não vem com uma força de fora do sistema político, como as Forças Armadas.

O resultado é que é muito difícil para a sociedade perceber o que está acontecendo, porque aparentemente as instituições estão funcionando, existe uma fachada legal, uma fachada de normalidade que é feita de propósito”.

É isso aí, Lustosinha, um forte abraço. Espero ajudar no seu esforço de reflexão. Agradeço por manter respirando este meu blog nesse malfadado confinamento. O qual, infelizmente, deve romper no tempo, pois o tal do distanciamento social segue capenga, sob os auspícios do (des)governo Bolsonaro/Guedes. 

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A IRONIA DA FOLHA DE S.PAULO 13 Jul 2020 5:50 PM (4 years ago)

Jair Bolsonaro: eleito com a ajuda da chamada grande imprensa (Foto: Internet)

Usar amarelo em nome da democracia é mais uma manobra da elite para que o povo possa esquecer o apoio maciço que a imprensa brasileira deu a Jair Bolsonaro em 2018.

Por Valdimiro Lustosa – ex-dirigente sindical, bacharel em Direito

Há poucos dias li nas páginas do jornal da família Frias, o chamamento apelativo: “Use amarelo pela democracia”! Seria uma réplica do movimento das diretas já de 1983/1984? Seja como for, sabemos que a Folha de S.Paulo, até mesmo nas diretas já só veio a se manifestar a favor quando o movimento já estava forte. Até lá o jornal ficou omisso. Quando viu que a onda era crescente não hesitou e apoiou. Oportunismo?

Agora, decorridos 36 anos, vem com a campanha do “Use amarelo pela democracia”! Cheira à ironia. Um jornal que apoiou o golpe  de 1964, compactuou com o regime militar, fez campanha cerrada para a derrubada da presidente Dilma Rousseff, foi linha de frente na campanha de Bolsonaro contra Haddad e agora, porque a maré não lhe está sendo favorável, deita falação contra o presidente, deixando a entender que foi enganado e que não era isto que esperava da sua política econômico-social. A imprensa brasileira sempre agiu assim. Sabia perfeitamente, quem era Bolsonaro, mas por ódio, por capricho ou por interesses outros, apoiou o modelo que está aí.

Usar amarelo em nome da democracia é mais uma manobra da elite para que o povo possa esquecer o apoio maciço que a imprensa brasileira deu a Jair Bolsonaro em 2018. A imprensa que sempre defendeu os projetos da burguesia quer vestir o povo de amarelo com um novo slogan: “Um jornal a serviço da democracia”. Em 1961 o slogan era “Um jornal a serviço do Brasil”.
A elite que depôs Dilma Rousseff do poder em 2016 foi quem colocou o Bolsonaro na presidência com o apoio irrestrito da mídia. Todos se lembram do pato amarelo da FIESP, órgão ultrarreacionário que patrocinou as campanhas do desmonte da CLT que albergava direitos dos trabalhadores, retirando praticamente todos os direitos trabalhistas, bem como apoiou firmemente a reforma da previdência que restringiu o direito de aposentadoria. Ora, depois de tanta perversidade, veste-se de amarelo para enganar os incautos, pregando um nacionalismo manjado. Que nacionalismo é este que entrega de mão beijada as empresas nacionais, que queima a floresta amazônica para vender madeira e plantar capim para criar gado? Ora, quem comprou seu carvão molhado que o abane! Eu não comungo desse tipo de nacionalismo. Nacionalismo na essência seria preservar nossas riquezas, investir em pesquisas científicas, na educação, na geração de empregos para o nosso povo, não essa manobra oportunista das cores nacionais.

A mesma mídia que critica OPORTUNISTICAMENTE, o governo Bolsonaro é a mesma que apoia as reformas trabalhista e previdenciária; que apoia a política de desmonte da riqueza nacional com a venda, ou melhor, com a entrega das nossas empresas ao capital estrangeiro a preço de banana. Uma lástima! Conclamar o povo para vestir amarelo e liderar um futuro governo sem a participação popular. Esse é o projeto. Já assisti a esse filme. A campanha das diretas já gorou! O que sobrou para o povo? Nem o bagaço da laranja. Não entro mais nessa. Os tempos são outros, mas parece que ainda continuamos iludidos. Qualquer mudança na política institucional do país só beneficia a classe dominante que, em associação com as igrejas, espolia os trabalhadores. Seria muito bacana se o povo entendesse essas manobras para, no momento certo, dar o troco, votando em seus verdadeiros representantes e não nos representantes dos segmentos burgueses da sociedade.

Se tomarmos como exemplo a Revolução Francesa, estribada no lema “Liberté, Égalité, Fraternité”, podemos ver que sempre a plebe fica a ver navios, ou seja, na hora da luta, a massa vai à frente, mas na hora de repartir os benefícios... Na França foram criados três estados:  o Primeiro Estado representado pelo clero e câmaras diocesanas; o Segundo Estado representado pela nobreza; o Terceiro Estado era, conforme Eric Hobsbaum, representado por uma entidade fictícia destinada a todos os que NÃO eram nobres e nem membros do clero, ou seja, a plebe. O Terceiro Estado, que era a maioria, sustentava os outros dois! Assim é o capitalismo. O Primeiro Estado e o Segundo Estado não pagavam impostos e tinham uma série de privilégios, enquanto a plebe tinha que se virar para ter seus representantes.

Assim é como tudo funciona no capitalismo. Há pouco tempo quiseram destruir o Partido dos Trabalhadores. A elite não aceita de jeito nenhum que os trabalhadores tenham seus representantes, mas ela banca a campanha dos seus parlamentares para fazerem leis que atendam os seus desejos. Desta forma a burguesia se perpetua no comando das nações, seja aqui, ali, alhures, sempre foi assim, até um dia, até talvez, até quem sabe.

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A TÃO FALADA DEMOCRACIA... UMA FALÁCIA! 24 Jun 2020 7:39 AM (4 years ago)

Valdimiro Lustosa (Foto: da página do autor no Facebook)

“Era de se esperar um mundo mais humano em busca do bem-estar social, da harmonia entre os povos, de uma distribuição de renda menos perversa, em busca de dias mais felizes.” (Como brinde, ‘Números’, uma preciosidade do poeta italiano Trilussa)

REFLEXÕES

Por Valdimiro Lustosa – ex-dirigente sindical, bacharel em Direito (título principal e destaque acima são da edição deste blog)

Tenho aproveitado o período de isolamento social para me dedicar um pouco à leitura e fazer reflexões sobre o momento da pandemia e o momento político brasileiro. Assim, deparei-me com textos altamente esclarecedores, dignos de análises profundas do porquê estamos passando por momentos tão cruéis. Não que em outras eras o mundo tenha sido uma maravilha. Em absoluto. Vivemos momentos tão desastrosos com guerras, crises, escravidão etc. Todavia estamos no Século XXI e parece que ainda não saímos do Século XIX.  Era de se esperar um mundo mais humano em busca do bem-estar social, da harmonia entre os povos, de uma distribuição de renda menos perversa, em busca de dias mais felizes. No entanto o que vemos é a correria pela maximização do lucro (vide os escandalosos lucros dos bancos brasileiros ou dos estrangeiros que operam no Brasil). Os trabalhadores perderam seus direitos que foram arrancados por uma LEI CRIADA para, segundo os magnatas do poder, gerar mais empregos. O que vimos e estamos a assistir é um verdadeiro massacre com perdas de empregos que já somam no momento mais de 24 milhões de pessoas desempregadas. Que reforma é esta?!! O que vimos foi a destruição da previdência para ninguém poder se aposentar como antes. Depois falam em DEMOCRACIA. É UMA FALÁCIA! Aliás, sobre o tema democracia, gostaria de falar a posteriori. Vendem-se as empresas brasileiras e assim não teremos mais empregos. Esta é a proposta dos homens do dinheiro que bancam candidaturas e têm seus representantes no Congresso Nacional para elaboração de leis que interessem somente a eles. Pedem e pregam o NEOLIBERALISMO, ou seja, o Estado deve ficar fora das decisões econômicas, contudo, quando há uma crise como a que estamos passando e que afeta em cheio a economia notadamente, as pequenas empresas e os mais pobres, a burguesia não contribui com um real para salvar os mais necessitados. Todos esperam e cobram do governo. Neste momento ninguém quer ser liberal!

O que é a liberdade

Nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a liberdade política não consiste nisso. Num Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a liberdade não pode consistir senão em poder fazer o que se deve querer e em não ser constrangido a fazer o que não se deve desejar.
Deve-se ter em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem: se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder.

Os versos de Trilussa

Trilussa, poeta italiano cujo verdadeiro nome era Carlo Alberto Salustri, viveu no tempo de Mussolini e ousou escrever fábulas criticando ferinamente o regime fascista. Segundo Paulo Duarte, tradutor de sua obra, Trilussa reuniu cinquenta poemas em Libro muto (Livro mudo), cuja edição logo se esgotou: “O fascismo, como sempre acontece em momentos tais, só descobriu que o Livro mudo era um protesto violento escarnecedor e mordente quando o livro já estava na rua”. Mas também explica que Mussolini, no seu tempo de socialismo e boêmia, foi amigo de Trilussa, o que talvez justifique sua complacência com o poeta. Se bem que não se pode negar um certo oportunismo perante tão ilustre personalidade, famosa no mundo inteiro. Quando um escritor perguntou a Mussolini a respeito da censura rigorosa que fazia calar toda crítica, ele teria retrucado: “Abolição da liberdade? E Trilussa?...”

                                    Números

Eu valho muito pouco, sou sincero,
Dizia o Um ao Zero,
No entanto, quanto vales tu? Na prática
És tão vazio e inconcludente
Quanto na matemática.
Ao passo que eu, se me coloco à frente
De cinco zeros bem iguais
A ti, sabes acaso quanto fico?
Cem mil, meu caro, nem um tico
A menos nem um tico a mais,
Questão de número. Aliás é aquilo
Que sucede com todo ditador
Que cresce em importância e em valor
Quanto mais são os zeros a segui-lo.

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“VOU SER FUZILADO DAQUI A POUCO (...) NÃO QUERO QUE O FRIO ME FAÇA TREMER” 29 May 2020 5:45 PM (4 years ago)

A execução aí na foto (da Internet) não tem relação com a da carta abaixo

“Assumi meu lugar no Exército de Libertação, e morro quando a luz da vitória já começa a brilhar”.
Por Spartaco Fontanot – soldado voluntário da luta antifascista na França ocupada durante a Segunda Guerra Mundial.
“Querida mamãe: De todas as pessoas que conheço, a senhora é a única que vai sentir mais, por isso meus pensamentos são para a senhora. Não culpe ninguém mais por minha morte, porque eu mesmo escolhi minha sorte.
Não sei como lhe escrever, porque, mesmo tendo a cabeça clara, não consigo encontrar as palavras certas. Assumi meu lugar no Exército de Libertação, e morro quando a luz da vitória já começa a brilhar (...) Vou ser fuzilado daqui a pouco com 23 outros camaradas.
Depois da guerra a senhora deve exigir seus direitos a uma pensão. Eles lhe entregarão minhas coisas na prisão, só que estou ficando com o colete de papai, porque não quero que o frio me faça tremer (...) Mais uma vez, digo adeus. Coragem!
Seu filho,
Spartaco”.
Spartaco Fontanot, metalúrgico, 22 anos, membro do grupo resistente de Misak Manouchian, 1944, in Lettere (1954, p.306)
PS: Transcrito do livro ‘Era dos Extremos – O breve século XX – 1914-1991’, autor Eric Hobsbawm, página 144, editora Companhia das Letras.
Conforme pesquisa na Internet, Spartaco Fontanot nasceu na Itália em 1922 e foi fuzilado no Forte Mont-Valérien, na França, em fevereiro de 1944, quando a Segunda Guerra Mundial estava chegando ao fim. Participava como voluntário da resistência contra o fascismo/nazismo na França ocupada.
Misak (ou Missak, como encontrei na Internet) Manouchian, o nome do grupo de resistência, foi um poeta e militante comunista do povo armênio, nascido na Turquia.

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